quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Retrospectiva

Feliz ano velho, caros leitores!
Vamos comemorar o fim de mais uma volta da Terra em torno do Sol com uma retrospectiva dos fatos marcantes de 2010!
Estudemos esse glorioso ano por categorias:

Esportes:
Nesse ano que se passou, ocorreu um dos eventos mais esperados pelo povo brasileiro: A Copa do Mundo!
Nessa copa, o principal ganhador foi, com certeza, a vuvuzela, que com seu doce som conseguiu irritar bilhões de pessoas no planeta inteiro.
Quanto ao time que ganhou, posso dizer genuinamente que não lembro qual foi. Mas posso dizer que lamentei profundamente o fato de que a África do Sul perdeu.
Eu adoraria ver a cara do mundo se a África do Sul ganhasse.

Política:
Nesse ano, tivemos tambem outro evento marcante para o povo brasileiro: as eleições presidenciais. Esse, porém, é um que os brasileiros odeiam, porque com as eleições, vêm o horário político, e com o horário político vêm o atraso da novela.
Entre os acontecimentos marcantes dessas eleições, tivemos a eleição de um analfabeto, a disputa entre os dois candidatos à presidente mais feios da história, e uma profusão de escândalos aleatórios.
Dessa vez eu posso dizer que sei quem venceu. Posso dizer tambem que lamentei profundamente a derrota do Eymael.
Mas não se desespere, Eymael! Um dia o Brasil ainda abraçara a democracia cristã!

Tecnologia:
O mundo da tecnologia foi novamente abalado pelo novo messias, Steve Jobs. Dessa vez ele deixou o mundo boquiaberto com sua mais nova invenção: o iPad. O tablet da Apple vendeu mais de um puta-que-parilhão de unidades em menos de 10 milissegundos, apesar de ninguem saber direito pra que ele serve.
Questionado sobre o futuro lançamento da Apple, Steve Jobs disse que está considerando fabricar um descanso para copos com bluetooth ou um peso para papel com acesso à internet.

Desastres:
Eu obviamente poderia passar o ano de 2011 inteiro falando sobre os desastres que aconteceram em 2010, mas irei me focar em dois deles:
Primeiramente, tivemos a novela dos mineiros chilenos, que ficaram presos. Numa mina. Chilena.
No caso mais bem documentado de isolação de pessoas, o mais marcante foi o tédio do negócio. Não tivemos nenhuma morte sangrenta, nenhuma rebelião violenta e nenhuma mutação que os transformasse em homens-topeiras.
Felizmente, salvaram-se todos.
O segundo desastre foi bem mais marcante: Morreu Lombardi. Conhecido mundialmente por ser um homem que só tinha sombra, Lombardi foi durante muitos séculos a voz marcante dos programas do Sílvio Santos.
Com sua morte, restam como únicos baluartes da imortalidade no país o próprio Sílvio e a Hebe.

Entretenimento:
Novamente, dois fatos marcantes ocorreram em 2010 na esfera entretenimental.
Primeiramente tivemos a estréia do filme mais caro do mundo. Avatar, a nova criação de James Cameron, conta a tocante história de Pocahontas no espaço. O filme atraiu atenção internacional por ter custado o PIB de vários países africanos e por ter ressuscitado a maldita moda dos filmes 3D, com seus óculos irritantes que dão dor de cabeça.
Por fim, tivemos o aniversário de um ano do blog Morram Malditos. Comemorado com uma festa de incrível pompa na sede da ONU em Nova York, vários líderes mundiais se uniram para comentar o sucesso ululante desse novo marco no mundo das comunicações. "Eu leio todo dia. É foda!", comentou o presidente dos EUA, Barrack Obama. "É minha fonte particular de informações", disse Julian Assange, do Wikileaks. Sobre o príncipal autor do blog, Lula disse: "Esse é o cara!"
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Concluimos, portanto, que 2010... foi uma bosta.

Para 2011, eu lhes desejo meus sinceros votos de pedras no rim, dedos batidos na quina da mesa, torcicolos e tifo.

E aguardo ansiosamente a queda de um OVNI em algum lugar do mundo, para ter alguma coisa pra falar na retrospectiva do ano que vem.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Sustentabilidade

Tenho aqui, aberta à minha frente, a edição especial da Veja, sobre a palavra da moda: "sustentabilidade".

A palavra "sustentabilidade", definida por sua criadora, Gro Harlem Brundtland, significa "encontrar uma forma de desenvolvimento que atenda às necessidades do presente sem comprometer as capacidades das próximas gerações de suprir suas próprias necessidades."

A palavra "sustentabilidade", definida por mim, significa "uma puta hipocrisia".

Quando eu ouço alguma menção à palavras como "sustentabilidade", produtos "orgânicos" ou qualquer coisa "verde", minha reação é a oposta do que se deveria esperar.
Ao invés de ouvir atentamente sobre o que eu posso fazer para ajudar o planeta, eu imediatamente bloqueio mentalmente o assunto, cobrindo-o com um grande cobertor com a palavra 'hipocrisia' bordada nele.
Porque é assim que eu vejo qualquer atitude auto-intitulada verde ou sustentável: apenas uma tentativa do indivíduo de aplacar sua consciência, achando que está ajudando o meio ambiente.

A edição da Veja dedicada à sustentabilidade possui uma seção dedicada a avaliar a eficácia das principais atitudes sugeridas pelas campanhas ambientalistas. Entre elas, existem sugestões como "deixar de imprimir documentos", "abolir a carne da dieta" ou "fazer xixi no banho".

Em nenhum momento sê vê sugestões como 'deixar de andar de carro' ou 'abolir a energia elétrica'.

Ou seja, o indivíduo que passa o dia inteiro dirigindo seu SUV que gasta dois litros de gasolina por quilômetro, come todo dia no McDonald's, gerando meia tonelada de lixo no processo, mas, ao chegar em casa, segura a vontade de mijar até a hora de tomar banho, esse indivíduo é um herói do meio ambiente.

...francamente!

As chamadas atitudes sustentáveis nunca exigem muito esforço do indivíduo. São sempre ações fáceis de serem executadas, que exigem o mínimo possível de esforço e a menor alteração possível no cotidiano da pessoa.
As campanhas ambientais se preocupam em dizer ao homem que ele deve fazer xixi no banho, mas não que ele deve parar de andar de carro. Ainda assim, todo mundo sabe que um carro é muito mais prejudicial ao meio ambiente que uma descarga. Por que as pessoas 'verdes' não param de andar de carro, então?

Porque no fundo, no fundo, elas estão pouco se fodendo com o planeta.

Apesar de todo o marketing com o meio ambiente, não houve nenhuma alteração perceptível no clima. Por isso as pessoas não tomam nenhuma atitude verdadeiramente impactante. Enquanto o nível do mar não subir ao ponto de alagar as cidades costeiras, as pessoas vão continuar mijando no banho e achando que estão salvando o planeta no processo.

A única coisa mais ridícula que as atitudes "verdes" adotadas pelas pessoas são as atitudes "verdes" adotadas por grandes companhias.

Por exemplo, a política dos créditos de carbono.
Créditos de carbono figuram numa posição proeminente na minha lista das ideias imbecis da humanidade. Pra quem não sabe, um crédito de carbono é algo que você compra pra 'neutralizar' sua poluição. É como se eu tomasse um banho por dia, e meu amigo não tomasse nenhum. Aí, ao invés de tomar um banho ele mesmo, ele começa a me pagar e eu tomo mais um banho por ele.
A ideia é completa e absolutamente imbecil, e ainda assim fez um sucesso estrondoso. A razão? Porque exige pouco esforço. Você continua fodendo o mundo, mas agora você paga pra ter alguem fodendo ele menos do outro lado, e segue sua vida feliz e despreocupado.

...francamente!

Na gloriosa Veja com a qual eu abri esse texto, há uma propaganda da Petrobras. Nela, há um texto dizendo que "a Petrobras acredita que é possível conciliar a exploração de petróleo e gás e o equilíbrio do meio ambiente".
A cara de pau do departamento de publicidade da Petrobras me impressiona.

Na mesma revista, a última página é dedicada a uma pesquisa sobre as atitudes dos brasileiros para diminuir o impacto ambiental. Uma grande foto da Gisele Bündchen, vestida de lingerie, ilustra a página. O texto informa que ela "decidiu apoiar a campanha pelo xixi no chuveiro".

...
...
...francamente!


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Duas considerações finais:

Inicialmente, gostaria que todo mundo que ficou puto com o estado de abandono desse blog no último mês pegue tifo. Ele esteve abandonado por dois motivos: o primeiro se chama "fim de semestre". O segundo, muito mais importante e nobre, se chama "preguiça".

Segundamente, gostaria de salientar que há três dias atrás, no dia 17, esse blog completou um ano de existência.
Eu poderia usar esse espaço pra agradecer à todos os leitores, com sua paciência e sua atenção.

Mas não vou.
Ao invés disso, vou desejar à todos vocês uma infecção alimentar causada pela lentilha do ano-novo.

Morram, malditos!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Fusca

Se eu me levantar desta cadeira da qual eu vos escrevo, andar oito passos em direção à sacada e olhar para o outro lado da rua, eu verei, separado de mim por uns bons 500 metros (horizontalmente falando), um Fusca. É um Fusca bege, fabricado em 1976, com placa de Americana e um adesivo do auto-posto Floreal no para-brisas. Mais importante que tudo isso: é o MEU Fusca.

Meu Fusca. Admirem-no.


Fuscas são máquinas fantásticas. Tanto pela engenharia delas, quanto pelo efeito cultural que eles causaram no mundo. Um Fusca atrai reações inflamadas. Ou se ama, ou se detesta. É quase uma disputa política: existem os Fusquistas e os anti-fusquistas (ou, como eu prefiro chamá-los, Novo-unistas). Eu sou um militante fervoroso do primeiro grupo. Se dependesse de mim, todos os automóveis do mundo seriam baseados no Fusca. As ruas seriam dominadas por Fuscas, os caminhões seriam parecidos com Fuscas, as limosines seriam Fuscas alongados, os ônibus teriam os paralamas redondos. O mundo seria um lugar bem mais legal.

Mas não.

Os carros de hoje em dia são cada vez menos parecidos com Fuscas. São espaçosos, aerodinâmicos, silenciosos, tem um porta-malas de verdade atrás e um motor na frente. Em suma, são feitos para que você os dirija com o mínimo de esforço possível. Como se dirigir fosse um ônus, uma obrigação.
O Fusca segue o caminho inverso. Visto de fora, é uma coisa até meio desengonçada. Não parece seguir nenhuma regra de aerodinâmica. Chega a ser engraçado. Ao entrar nele, você imediatamente sente o delicioso cheiro da gasolina adentrando em suas narinas. Ao ligá-lo, o motor ruge atrás de você como uma besta selvagem enjaulada. Para combater o calor, você abre o vidro e sente o vento no rosto.

Resumindo: os carros modernos são como uma prostituta: você paga, faz seu serivço, vai embora, e no outro dia você talvez nem se lembre direito do que aconteceu. Já um Fusca é como uma esposa: pode te dar um monte de dor de cabeça, mas, no final, você ainda vai gostar dele.

Exatamente como ocorre nesse momento. Da sacada do prédio, eu sou capaz de ver meu Fusca, estacionado na mesma vaga faz quase uma semana, por motivos de falha mecânica. Com um carro comum, eu ficaria puto, e provavelmente estaria sentado nessa cadeira xingando a mãe de quem quer que tenha criado a montadora do carro. Porém, como se trata de um Fusca, estou aqui vangloriando essa magnífica criação da humanidade.


(Bonus) Eu, dirigindo meu Fusca. Notem minha cara de felicidade (e minha camiseta do Abbey Road).

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Aniversário

Há uma semana e um dia, eu fiz aniversário e completei infelizes 19 anos de existência. Então, com uma semana e um dia de atraso, aí vai um post sobre aniversários.

O aniversário (do latim, anniversarius) é uma data na qual se comemora o fato de que, desde que você foi expelido do útero da sua mãe, um pedaço de pedra no espaço deu um certo número de voltas ao redor de uma bola de fogo gigante. Porém, como é costumeiro da humanidade, a data tomou proporções muito maiores e se tornou algo muito mais complexo. Hoje em dia, ao invés de olhar pro calendário e falar "Olha só, há 19 anos eu estava saindo nu, careca, desdentado e ensanguentado do útero da minha mãe!", você olha pro calendário e fala "Nossa, hoje é meu aniversário!", e as pessoas começam a cantar músicas chatas e repetitivas, acendem umas velas em cima de um bolo, te dão presentes e te falam 'parabéns', como se sair de dentro de alguem fosse um feito impressionante da sua parte.

O que eu, particularmente, acho uma tremenda falta de sentido.

Quem me conhece pessoalmente deve saber que eu não gosto de aniversários. Tenho uma série de razões pra isso.
Quem me conhece pessoalmente deve conhecer essas razões, mas eu vou repetí-las para eles, do mesmo jeito.

Do ponto de vista lógico, aniversários são completamente estúpidos. Primeiramente porque os aniversariantes em si não tem absolutamente nada o que comemorar. Para o aniversariante, o aniversário deveria ser uma data de tristeza e lamentação, não de comemoração. Basicamente, você está comemorando o fato de que você, há X anos atrás, abandonou o lugar mais confortável em que você já esteve: um lugar onde você podia ficar peladão, boiando de ponta-cabeça, sem se preocupar com porra nenhuma, e, pra completar, comendo PELO UMBIGO. Aí, um belo dia, alguem te puxa desse lugar, te dá um tapa, te joga numa banheira, e o que você faz alguns anos depois? Você dá uma FESTA. Quem achar um pingo de lógica nisso, por favor, desenha pra mim, porque vai ser difícil eu entender.

Se tem alguem no aniversário que deveria comemorar, esse alguem deveria ser a mãe do aniversariante. Ela sim tem bons motivos pra festejar e pra receber parabenizações. Afinal, foi ela quem conseguiu, naquela data, se livrar do pequeno parasita que estava se alimentando do que ela própria comia faz 9 meses.

Já do ponto de vista pessoal, eu não gosto de aniversários porque... Bem, porque são um saco. Você acorda num belo dia qualquer e, de repente, você se lembra que hoje você está um ano mais velho. Assim, do nada. Ao invés de ser algo progressivo, pra aliviar o baque, a idade vem toda de uma vez. Como se não bastasse, as pessoas ficam ligando pra você o dia inteiro, e você passa o inferno do dia ouvindo a mesma baboseira: "Parabéns, muitas felicidades, saúde, paz, blablabla". Telefonemas já me enchem o saco; telefonemas repetidos me enchem indescritivelmente mais. Pior que isso, só ficar do outro lado da linha, imaginando o que você pode falar pra parecer realmente agradecido e educado.
Mas a coisa que eu mais odeio num aniversário, sem duvidas, é quando resolvem cantar parabéns. Se tem uma situação no mundo que me deixa desconfortável, essa situação é ser o aniversariante quando cantam parabéns. Fica todo mundo batendo palma e cantando com cara de felicidade, e eu não faço ideia do que fazer. Tenho que bater palmas? Tenho que estampar uma cara de felicidade eterna e insuportável na minha face? Devo acenar e sorrir? Devo enfiar minha cara num buraco? Enquanto eu penso nisso, estou lá, provavelmente com cara de imbecil, esperando aquilo acabar.

Malditos aniversários.

domingo, 3 de outubro de 2010

Domingo

Domingo é uma merda.

Eu sempre tive uma certa inimizade com o domingo. Na minha infância, domingo era o dia da missa. Se tinha uma coisa da minha infância que eu odiava, era a missa. Meus pais bem que tentaram me tornar uma pessoa temente a deus, mas como vocês devem ter percebido, eles não obtiveram muito sucesso. Eu credito uma grande parte disso à missa. Minhas memórias de domingo estão sempre marcadas com a esperança de não ter de ir à missa, a decepção em descobrir que eu teria de ir, a sensação de desânimo profundo no caminho até a igreja, culminando no tédio da missa em si. Um tédio gigantesco, quase uma presença física, um líquido viscoso me prendendo no banco e me impedindo de me levantar pra ouvir o evangelho. E depois de tudo isso, ao voltar para casa, o sentimento desesperador de perda de tempo.

Depois de um tempo, minhas idas à missa foram diminuindo de intensidade até se extinguirem, mas o domingo continua, com toda sua presença maléfica. Domingo é um dia ridículo por natureza. A sexta-feira marca a transição dos dias úteis, com todas suas obrigações, seus prazos, seus horários e compromissos, para os dias inúteis, cobertos de ócio, de calma, de relaxamento. No sábado, o ápice do fim de semana, chegamos o mais perto possível de uma existência meio anárquica: não há hora pra acordar, não há hora pra dormir, não há hora pra sair de casa, não há hora pra voltar pra casa. Aí, por fim, chegamos no domingo. O domingo, ao contrário da sexta, marca a transição dos dias inúteis, com sua existência desregrada e insana, aos dias úteis, com as rotinas, os despertadores, os congestionamentos e toda aquela histórinha chata que todos nós conhecemos.

Domingo é uma bosta.

Eu prefiro centenas de vezes a segunda-feira ao domingo. Eu costumo comparar o domingo e a segunda ao elevador do Hopi-Hari. A fila do elevador é, para mim, que nem o domingo: é tensa, te deixa estressado e é chata. Porém, quando você chega no elevador em si, pode ser ainda bem desconfortável, mas é substancialmente menos desconfortável que a fila, assim como a segunda-feira é bem menos irritante que o domingo. O domingo é o dia de sofrer por antecipação, e sofrer por antecipação pode ser bem pior que sofrer na hora.

Como se não bastasse o domingo ser ridículo por natureza, ainda dá-se um jeito de torná-lo ainda mais ridículo. A principal forma de fazer isso é ligar a televisão no domingo. Se você quiser ver tudo de mais desprezível que a humanidade pode lhe oferecer, é só sintonizar a televisão num canal aberto a partir das 16h da tarde de um domingo e se preparar para o festival de baixarias, piadas idiotas, jogos de futebol, matérias investigativas do Fantástico, experiências científicas fantásticas do programa da Eliana ou as coreografias da dança dos famosos no programa do Faustão. Depois disso, se você quiser ficar ainda pior, é só colocar a corda no pescoço e pular do banquinho.

E quando finalmente a madrugada se aproxima e você se vê quase livre do domingo, o domingo se recusa a te libertar. Você se vê obrigado a acordar cedo no outro dia, mas você provavelmente levantou tarde no domingo. Resultado: ao tentar ir dormir cedo, você se vê deitado na cama, rolando inutilmente esperando o sono chegar, o sono não chega, e você acorda na gloriosa segunda, morrendo de sono e esperando ansiosamente pelo próximo fim de semana pra poder dormir como um zumbi.

Odeio domingo.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Utopia

Um dos passatempos preferidos do ser humano é imaginar circunstâncias irreais que tornariam o mundo um lugar melhor. "Imagina que legal se todo mundo vestisse azul-turquesa", pensam uns. "O mundo seria um lugar bem melhor se os rinocerontes tivessem o direito do voto", conjecturam outros. "Seria tão legal se a gente tivesse um rabo no meio da testa para espantar as moscas!", filosofa um terceiro.
Eu, como qualquer ser humano, tenho a minha própria visão de uma utopia: um mundo ideal, porém irrealizável. Hoje, irei dividi-la com vocês:

Minha utopia difere da realidade em três pontos:

Primeiramente, no meu mundo utópico, o governo seria controlado por bichos-preguiças. Não caberia ao homem se governar: ao invés disso, seriamos controlados pela sábia e preguiçosa batuta dos majestosos bichos-preguiça, que através de seus movimentos lentos, porém certeiros, nos transportariam para um futuro ideal.

Segundamente, toda e qualquer contenda seria resolvida numa banheira do Gugu. Qualquer desavença entre raças, credos, castas, nacionalidades ou qualquer coisa que não fosse resolvida pelo diálogo e pelo bom-senso terminaria no mesmo lugar: uma banheira, onde os antagonistas, vestidos de maiô, se digladiariam para obter o controle de um sabonete. Em caso de um conflito muito grande, uma banheira gigante seria construida, e os dois exércitos seriam colocados dentro dela, lutando pelo controle de uma tonelada de sabonetes despejados lá dentro. Tal sistema, além de impedir milhares de mortes e crimes de guerra, seria muito mais divertido. Imagine as seguintes cenas:
George W. Bush e Osama bin Laden, numa banheira.
Hitler e Winston Churchill, brigando por um sabonete.
Francisco Ferdinando e Gravillo Princip, ambos de maiô preto, se preparando para entrar na banheira.
Joana d'Arc e a Santa Inquisição, num embate violento pelo sabonete escorregadio.
Poncio Pilates e Jesus Cristo, chafurdando na água espumante enquanto uma multidão canta 'umba umba umba ê! umba umba umba ô!"

Terceiramente, o mundo se comportaria como um gigantesco e constante musical. Você estaria, por exemplo, andando de ônibus, quando, de repente, do ar, começaria a tocar uma música. Ela começaria suave, então você entraria cantando, até que, no refrão, o ônibus inteiro explodiria numa cantoria, enquanto você lideraria uma coreografia louca enquanto descia do ônibus, e iria dançando até seu destino, enquanto as pessoas da rua se uniriam à você na coreografia, até que, no climax máximo da canção, uma pequena multidão estaria atrás de você, dançando e cantando em únissono. Quando acabasse, todos iriam simplesmente juntar suas coisas e ir andando como se nada tivesse acontecido, e você continuaria no seu caminho, até que, do nada, um novo número do musical explodisse ao seu lado e você se visse pego na coreografia. Milhares de músicas aconteceriam simultaneamente, as vezes melancólicas, as vezes dramáticas, as vezes felizes, e você iria participando delas, as vezes liderando, as vezes como um figurante. Quando você, por fim, chegasse, digamos, ao seu trabalho, e o seu chefe te perguntasse "por que o atraso, maldito?", você poderia responder sem culpa: "Mil perdões, chefe, fui pego numa versão reestilizada do 'Singing in the Rain' alí na esquina e não cheguei a tempo..." e o seu chefe, compreensivo, diria: "Bem, acontece com qualquer um, né? Vamos pelo menos agradecer que não foi nada do High School Musical!", e você iria feliz tomar um cafézinho.

Mas bem, como isso tudo é completamente impossível, eu permaneço com a minha utopia realizável de transformar a ilha de Marajó numa miniatura da Irlanda.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Trabalhar

E com vocês, a palavra que eu mais detesto:

trabalhar
v. intr.
1. Fazer algum trabalho.
2. Lidar; empenhar-se, diligenciar, procurar.
3. Exercer a actividade

Vamos começar com a resposta de uma pergunta que vocês, sem dúvida, farão:
"Mas porra, você já trabalhou?!?!"
Não. Nunca trabalhei.
Tambem nunca ateei fogo em mim mesmo, mas sei que deve ser, digamos, desconfortável. Nunca me joguei da varanda do apartamento, mas não preciso fazer isso pra saber que deve ser meio dolorido. Do mesmo modo, não preciso ter trabalhado pra saber que o trabalho é uma merda.

O trabalho é, sem duvida nenhuma, a pior invenção da história da humanidade. Não ligo pro fato de que a humanidade não existiria sem o trabalho. A humanidade não é lá grande coisa; entre a humanidade e o trabalho ou nenhum dos dois, eu escolheria alegremente a segunda opção.
O problema é que nossos antepassados escolheram a primeira. Provavelmente porque o cérebro deles ainda era meio símio.
(E agora, com vocês, o esperado momento da revolta histórica do post!:)
Caramba, estava tudo perfeitamente sob controle! Viviamos (nós, a humanidade. Não eu e você) uma vida calma e alegre, colhendo plantas pela mata, caçando animaizinhos indefesos e, quando tudo ficava meio desesperador, nos uniamos e matavamos um mamute! Estava tudo perfeito e ideal: tinhamos a dose certa de comida, a dose certa de descanso, a dose certa de sono e a dose certa de mortes precoçes causadas por doenças virulentas, ferimentos gravíssimos e tigres de dente-de-sabre. Viviamos a vida que a natureza, em toda sua inteligência, planejou para nós.
Mas a natureza, coitada, se esqueceu que sempre existe um filho da puta.
Nesse caso, o filho da puta falou: "Que será que acontece se eu pegar esses grãozinhos e jogar nuns buraquinhos na terra?"
Nesse momento, a natureza provavelmente disse, com os olhinhos arregalados:
"Porra. Fodeu."
Eis que é criada a agricultura. A invenção que permitiu ao homem sair de uma vida nômade e viver no mesmo lugar todo dia, olhando pra mesma paisagem entediante todo dia, arando o mesmo pedaço de terra todo dia e comendo trigo todo dia.
Mas não, o ser humano não estava satisfeito. Eis que aparece outro (sim, outro!) filho da puta. Esse diz: "Será que as pessoas aceitariam o fato de eu dizer que, ao invés de trabalhar, eu deveria cuidar das questões governamentais da vila?"
E sabe o que é pior?
Aceitaram.
E assim, depois de criar o primeiro trabalho, o ser humano criou o primeiro vagabundo: o político.
Mas xingar os políticos fica pra outro post.
O fato é que, com a comodidade criada com a agricultura e sob o comando "inteligente" de um líder, as primeiras cidades cresceram e se multiplicaram. Com isso veio o comércio, o alfabeto, a matemática, os comerciantes, os advogados, os cientistas, os chefes, e uma legião de outros filhos da puta, cada um se preocupando desesperadamente em desvirtuar ainda mais o plano de vida que a natureza criou para nós.

E chegamos aonde estamos:
Ao invés de dormir quando cai a noite, acordar quando raia o dia, colher mangas numa mata e caçar animais indefesos com lanças quando a fome fica muito forte, nós atualmente acordamos antes de o sol nascer, trabalhamos que nem condenados para ganhar um punhado de papel com uns números escritos, compramos nossa comida já morta e se decompondo, chegamos no nosso lar quebrados e destroçados, assistimos a novela e vamos dormir MUITO depois de o sol se pôr.

Alguem além de mim nota o problema nisso aí?
Antes do trabalho, era tudo na dose certa. A gente dormia o quanto precisava, comia o quanto precisava, não tinha rotina, não cortava o cabelo e morria aos 25 assassinado por um leão.
Depois do trabalho, a gente dorme pouco, come muito, têm uma rotina maçante e chata, corta o cabelo todo mês e ou morre aos 30 assassinado por outra pessoa, ou aos 60 de alguma doença que a gente não teria se tivesse morrido aos 25 assassinado por um leão.
Tudo isso pra que?
Pra poder comprar um carro do ano (e chegar mais cedo no trabalho, assim podendo dormir uns 10 minutos a mais), uma televisão de 42 polegadas e um computador (pra poder ver melhor a novela e twittar sobre ela, ao invés de ir dormir mais cedo), comer carne de faisão (que a gente comeria naturalmente depois de caçar eles) e comprar remédio (pra tratar das doenças que a gente não teria se morresse aos 25 assassinado por um leão).
Como vocês podem ver, a gente trabalha pra fazer exatamente o que a gente faria (ou não precisaria fazer) se não trabalhasse!

E algumas pessoas ainda tem a cara de pau de glorificar o trabalho:
"O trabalho enriquece o homem!"
Não. O trabalho enriquece ALGUNS homens. O resto continua pobre e tendo que trabalhar que nem escravo pra ter o que comer;

"Por mais humilde que seja, um bom trabalho inspira uma sensação de vitória ."
(Jack Kemp, jogador de futebol americano e político)
Ah, tá. Disse o cara com o os dois trabalhos mais difíceis do mundo. Quero ver se ele diria isso se fosse um limpador de fossa.

"O trabalho agradável é o remédio da canseira."
(William Shakespeare)
E lá se vai nosso caro Willianzinho falando merda de novo. O remédio da canseira não é o trabalho. Essa é a CAUSA da canseira. O remédio pra canseira é o descanso. Vai ver por isso tem esse nome.

"O trabalho é, na maioria da vezes, o pai do prazer."
(Voltaire)
Ah, sim. Isso explica porque, na maioria das vezes, as pessoas ficam desesperadas pra sair do trabalho. Ninguem gosta de atividades prazerosas.

"O único lugar no mundo onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário."
(Vidal Sasson)
Já ouviu falar de um tal de Justin Bieber, senhor (ou senhora) Sasson?

E, pra terminar, uma que eu concordo:
"Meu pai me ensinou a trabalhar, não me ensinou a amar o trabalho."
(Abraham Lincoln)
E com essas sábias palavras do tio Abe, eu me despeço de vocês e termino essa maldita série de posts.
Bom trabalho a todos.

domingo, 29 de agosto de 2010

Estudar

Mil perdões pela demora, cavalheiros e damas. Estava caçando patos.

estudar (v. tr.)
1. Frequentar as aulas de.
2. Fazer o possível para conhecer ou compreender.
3. Analisar atentamente.

Aaah, o estudo. Admito, é uma atividade tão nobre, tão bela. Uma das poucas características que se salva no poço de nojeira que é o ser humano.
Se é assim por que eu o odeio?
Pra quem, assim como eu, já percebeu que esse texto não vai dar em nada, vou falar as 3 principais razões e vocês podem ir embora.

1.Estudar é frustrante.
2.Estudar é inútil.
3. Estudar me priva do ócio.

Pra quem quer continuar perdendo tempo, aí vão as explicações:

1. Estudar é frustrante.
Vou admitir, quando eu estudo e as coisas dão certo, eu até sinto uma certa alegria, até consigo sentir o prazer de ter o conhecimento fazendo o seu ninho no meu cérebro.
O problema é que o estudo só dá certo uma vez a cada 5 alinhamentos planetários. No resto do tempo, dá tudo errado: a conta não dá certo, se dá certo, a resposta não bate com o gabarito, e se bate, é porque você desistiu e viu a resolução em algum lugar.
Isso tira o ânimo de estudar de qualquer um. Afinal, qual é a sua vontade de fazer alguma coisa quando você sabe que ela vai dar miseravelmente errado?
Aí temos o próximo problema: descobrir porque você errou. Ou seja, após ter a frustração de ver que seu exercício, resolvido com tanto amor e carinho, está completamente errado, você precisa destrinchá-lo, procurando onde exatamente você fez merda. Aí vem o problema: o seu cérebro é completamente imparcial. Ele vai teimar ao máximo em admitir que você errou. Ele sempre vai tentar botar a culpa em outra coisa. Então, após cinco minutos procurando um erro, você chega a conclusão óbvia e ululante: o gabarito tá errado.
Ah, quem dera o mundo fosse tão simples...

2. Estudar é inútil.
Nem quase todo estudo é inútil, mas a maioria é. Basicamente, se todo o esforço e frustração mencionados no último item tivessem uma finalidade óbvia e uma aplicação imediata e útil, seria tudo válido e você não reclamaria em fazê-lo. Porém, a utilidade dos tópicos estudados costuma se esconder desesperadamente. Isso quando ela existe. Por isso, a pergunta mais proferida por estudantes do mundo todo, dia após dia, é sempre:
"Pra que serve isso?"
Claramente, qualquer motivação que você tenha em estudar, digamos, números complexos, não sobrevive ao fato de que a utilidade deles é nula.

3. Estudar me priva do ócio.
Essa é, obviamente, a principal razão para eu não gostar de estudar. O maior defeito do estudo não é ser frustrante ou inútil, mas sim me fazer acordar antes das 11h da manhã.
Como vocês todos sabem, espero, eu sou um profundo apreciador de todas as atividades que não exijam gasto de energia. Entre essas, a mais nobre, fantástica e suprema é o sono. Quando algo me priva do sono, eu sigo meus básicos instintos animais e passo a odia-la. Ocorre exatamente isso com o estudo (por favor, desconsideremos o fato de que eu durmo na aula). O estudo me faz acordar cedo, sair de casa e me locomover para fazer algo inutil e frustrante. Se o estudo não existisse, eu seria um feliz e alegre urso pardo em estado constante de hibernação.
Como diz meu pai, a única coisa que eu faço da vida é estudar. Portanto, se eu não estudasse, eu não faria nada, e viveria uma bela e utópica vida de vadiagem até o dia em que eu morresse de inanição!

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Um breve apelo

Uma pausa nos posts sobre minhas 5 palavras anti-preferidas para assuntos de importância mundial.

Vou lhes contar uma breve história de algo que ocorreu comigo, hoje de manhã.
Eu estava saindo do prédio, apressado pra caralho, prestes a perder o busão.
Quando eu passei na portaria, a porteira me perguntou se eu era filho de uma Cláudia.
(Não, eu não sou)
Então ela falou algo que eu não entendi direito porque sou surdo e porque tinha um caminhão passando.
Mas pelo que eu entendi, o filho da supracitada mulher se mudou para o prédio e ela pensou que ele fosse eu, 'aquele garoto simpático, que fala bom-dia, porque os outros passam e nem falam nada."
Ela disse essas palavras.
Pois bém, eu estava atrasado, então eu subi a rua meio correndo e cheguei no ponto.
Só então, quando eu estava parado lá, esperando o ônibus, é que aquilo me atingiu como uma tijolada epifânica no estômago. Foi como se Jack Swigert aparecesse na minha frente e falasse: "We have a problem".
Ela achou que eu era simpático.
Quem me conhece sabe que eu não sou simpático. Eu sou rabugento, velho, irônico, chato e anti-social. Simpatia não encaixa nisso aí. Porém esse não é o problema. Ela não me conheçe, afinal.
O problema é que ela achou que eu era simpático exclusivamente pelo fato de que eu passava pela portaria e falava "bom dia".

...porra!

Eu sei que a gente vive num mundo desprezível e ridículo. Eu tenho consciência disso. Mas quando parei pra pensar, eu percebi o estado em que estamos.
Estamos vivendo num mundo onde as pessoas te consideram simpático por falar "bom dia".
Bom dia.
Duas palavras. Duas palavras pequenas.
Existe algum esforço monumental em falar elas que eu não notei?
Porra.

Quando eu era pequeno, minha mãe me ensinava a ser educado, a falar obrigado e essas coisas. Até hoje ela me fala disso.
Agora eu fico aqui pensando comigo mesmo: que que a mãe desses indivíduos ensinam pra eles quando eles são pequenos?
"Filho, não fale bom dia pro porteiro. Ele é um semi-analfabeto sujo e desgraçado."
"Filho, não pare pra deixar o pedestre atravessar. Pedestres são todos trouxas."
"Filho, pode sujar todo o chão da casa. Quem vai limpar vai ser a otária da empregada, mesmo!"

Portanto, eu venho, hoje, lhes fazer um apelo.
Um apelo bem clichê, bem no estilo propaganda de cidadania da rede Globo:

Caros leitores e dignas leitoras, por favor, eu lhes peço: sejam educados.

Não estou pedindo nada complicado demais. Não estou pedindo que você se ofereça pra fazer faxina na casa de um desconhecido. Não estou pedindo pra você emprestar dinheiro pra um estranho no elevador. Estou pedindo só uma coisa: seja minimamente civilizado.
Não estou nem pedindo pra você ser alguem legal, se você notou. Por mim, você pode ser um excomungado de um filho da puta. Mas, por favor, seja um filho da puta educado!
Se você não sabe como, vou te explicar. É bem simples:
Fale 'bom dia' pro porteiro. Fale 'obrigado' pro cobrador do ônibus. Fale 'saúde' se alguem espirrar. Se você tiver um carro, deixe aquela pobre velhinha atravessar a rua. Não alimente os animais. Não pise na grama. Sorria, você está sendo filmado.
Não é algo complicado, como você pode ver. Até alguem como eu consegue fazer.

Portanto, meus colegas, tentem tornar o mundo um lugar minimamente menos desgraçado. Eu sei que já estamos num ponto sem volta na escala de filha-da-putice humana, mas vamos nos comportar como senhores elegantes e civilizados enquanto o grande navio chamado planeta Terra afunda, certo?

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Comer

Sem mais delongas, a terceira palavra que mais me irrita:

Comer.
(v. tr. Mastigar e engolir; s. m. Comida, alimento)

Vamos começar com uma ressalva: para aqueles que não me conhecem, meu estômago é ridículo. Ridículo, ridículo, ridículo. Se meu estômago fosse um livro, ele seria Crepúsculo. Se meu estômago fosse uma matéria, seria GA. Se minha vida fosse o sono, meu estômago seria o despertador.
Munidos desse conhecimento, vocês devem supor que comer não é, para mim, algo muito prazeroso. O que é completamente correto. Minha vida, companheiros, pode parecer bem chata e entediante. E bem, ela até é. Mas, na hora das refeições, ela se transforma numa batalha épica: de um lado, estamos eu e meu pobre e sofrido aparelho digestivo, presos no desfiladeiro de Termopila como os 300 soldados de Esparta, enquanto à nossa frente o gigantesco exército da comida se aproxima para nos massacrar. Nós resistimos, bravamente, vencemos algumas batalhas, e perdemos outras. Porém, a guerra continua num impasse.
O fato é que, para mim, comer é algo puramente obrigatório. É como respirar ou pegar ônibus: eu faço simplesmente porque tenho. Se alguem me chegasse aqui e agora e me oferecesse a possibilidade de nunca mais comer na vida, eu não hesitaria em aceitá-la - afinal, todo o prazer que as pessoas dizem sentir ao comer não é nada comparado à sensação de ter um boi se debatendo no seu estômago e mugindo para sair.
O fato é que as pessoas tem uma tara incompreensível pela comida. Atualmente, as atividades exercidas mais costumeiramente pelo homem (como ficar sentado na frente de uma tela digitando) não exigem grandes gastos energéticos. Assim, as pessoas deveriam comer menos, para manter um equilíbrio entre a energia adquirida e a usada. Porém, as pessoas se recusam a entender esse conceito básico de biologia. Elas comem, comem e comem, e nunca parecem estar satisfeitas. Não contentes em comer infinitamente, elas comem as coisas mais indigestas possíveis. Coisas como buchada, rabada, ossobuco, coisas com as quais meu estômago tende a se revirar só de pensar. Pior ainda, além de insistir em comer até terem gordura saindo pelos poros, elas acham estranho eu não conseguir fazer o mesmo.
Vai aí a novidade, colegas: nem todo mundo nasceu abençoado com esse presente da evolução chamado estômago funcional. Alguns, como eu, ficaram com a ponta de estoque, com os restos vendidos na liquidação. Para essas pessoas, a comida é uma necessidade - e apenas isso. Não é a razão de nossa existência: é apenas um requisito dela.

Agora, com licença, que eu vou arrumar alguma coisa pra comer. Adeus!

domingo, 8 de agosto de 2010

Acordar

A quarta palavra que eu mais odeio:

Acordar.
(v.intr. Sair do sono)

Como eu espero que todos tenham percebido, eu tenho uma certa adoração pelo sono, já explicada em posts anteriores.
Eu idolatro, porém, o sono brando, ininterrupto, do qual você, ao acordar, se sente na liberdade de virar para o lado e retomá-lo. Eu idolatro o sono calmo e despreocupado das férias, dos feriados, do final de semana, da tarde preguiçosa na casa da sua vó ou da sua tia, depois do almoço. Não o sono bruscamente assassinado pelo grasnar irritante do despertador. Não o sono dos dias úteis, não o sono de segunda a sexta. Esse é o sono decepcionante, o sono que é sempre insuficiente.

O sono, como eu já expliquei, é algo fantástico. É a fuga ideal dos problemas e preocupações do dia-a-dia. Você chega em casa, depois de um dia fodido, tira os sapatos, toma um banho, mas nada disso retira dos seus ombros a frustração da rotina. É apenas quando você encosta a cabeça no travesseiro, apenas quando a areia mágica dos bons sonhos cai sobre seus olhos, que a paz vêm até você. É algo incrível, genial...

Até que, as 6:30 da manhã, o apitar incessante do despertador te retira desse mundo onírico, te joga de volta ao desprezível planeta Terra e te condena à um dia corroído pelo sono.

O sono, companheiros, não é como uma vaca, que você pode domesticar facilmente, chamar de Mimosa e ordenhar quando bem entender. O sono é como a Corça de Cerineia, com chifres de ouro, pés de bronze e uma velocidade assustadora, enquanto nós somos como Hercules, fadados à persegui-la por anos a fio, tentando capturá-la e domá-la. Alguns, como meu pai, por exemplo, conseguem. Outros, como eu, falham miseravelmente. Em suma, o sono é indomável, teimoso, esquivo, imprevisível.

Porém, o ser humano é incapaz de aceitar isso. Ele se recusa a aceitar que o sono é algo que simplesmente não pode ser controlado. Então, ele tenta domá-lo, usando o artifício mais cruel já inventado: o despertador.
O despertador é a invenção mais filha-da-puta da face da terra. Ele retira o prazer do sono, transforma-o numa obrigação. Chega a ser triste dormir sabendo que no dia seguinte seu sono será cruelmente mutilado pelo despertador. E é ainda mais triste acordar com o agudo ralhar da máquina infernal no seu ouvido, gritando para que você acorde para mais uma dose diária de tédio, frustração e revolta.
Pior que isso, apenas o botão soneca. O botão soneca é a coisa mais atroz (pra não dizer idiota) que já passou pela cabeça de um homem. O despertador, como diz o nome, serve para despertar. Colocar um botão soneca no despertador é de uma crueldade sem fim. Ao invés de você se levantar de uma vez, se livrando rapidamente da tortura do despertador, você se vê apertando aquele botão maldito a cada cinco minutos, alimentando a doce ilusão de que aquele sono será o realmente recompensador, agindo como um moribundo se prendendo desesperada e irracionalmente aos fiapos de vida restantes em seu corpo. O cara que inventou essa merda devia ser processado em Haia por crimes contra a humanidade.

Como vocês vêem, acordar cedo é algo que pode acabar com o dia de qualquer um. O sono é algo feito para ser praticado de acordo com o indivíduo, pelo período que ele bem deseja, e não algo à ser programado e padronizado, como uma máquina. Você não pode dizer à um homem que ele deve medir 1,7 metros, calçar 40 e ter a pele clara. Por que, então, você deveria dizer à ele que ele têm de acordar as 6:30 da manhã?

sábado, 7 de agosto de 2010

Exercício

Iniciarei, hoje, aqui e agora, uma série de posts sobre as 5 palavras que eu mais odeio (ou, pra ser mais específico, que representam as 5 coisas que eu mais odeio). Começarei da 5ª e seguirei em ordem crescente, até o ápice final e extasiante de minha inútil e delirante revolta.

Com vocês, a quinta palavra que eu mais odeio:

Exercício

e.xer.cí.cio

sm (lat exercitiu) 1 Ato de exercitar ou exercer. 2 Qualquer atividade efetuada ou praticada com o fim de desenvolver ou melhorar um poder ou habilidade específicos. 3 Atividade corporal com o fim de desenvolver e manter a aptidão física. 4 Ação ou série de ações corporais, ideadas e prescritas para prática regular ou repetida como meio de ganhar força, destreza, agilidade ou competência geral em algum campo de atividade.

Eu odeio, mais especificamente, nos sentidos 3 e 4, de 'exercício físico'.
"Nossa, mas exercício é tão bom, faz bem pra saúde, libera serotonina e dopamina no sangue, te deixa magro e bombado! Por que você não gosta, maldito filisteu?", vocês me perguntam?
E eu respondo: porque eu sou um maldito sedentário preguiçoso que não engorda por nada.
A principal motivação que as pessoas têm pra fazerem exercícios é emagrecerem e se manterem no padrão estético da sociedade normal.
Quando você não precisa fazer absolutamente nenhum esforço pra ficar no padrão, você perde a maior parte das motivações palpáveis e fica só com os inconvenientes do exercício. Que, à meu ver, são muitos.
Primeiramente, irei destrinchar os tipos diferentes de exercício que as pessoas fazem.
Existem, para mim, 4 categorias de exercício físico.

A primeira envolve esportes, de fato, interessantes, como, sei lá, caça de faisões, esqui ou hóquei. Traduzindo, esportes que a maioria dos pobres mortais é incapaz de praticar.

A segunda envolve esportes em grupo, como futebol, vôlei, basquete, polo aquático e coisas do gênero. Eu não gosto desses por dois motivos:
1. Tais esportes exigem, do participante, um bom desempenho individual para o sucesso do time como um todo. E eu, como qualquer pessoa que tenha visto meu avantajado físico, não tenho capacidade de me manter no nível do grupo. Portanto, quando alguma merda acontece, eu fico entre os culpados.
2.Tais esportes são competitivos. Competição, nos esportes, exige uma alta dose de raciocínio rápido, coordenação motora, grande noção espacial e uma fina sintonia com o resto do time. Coisas que não ganhei em abundância ao nascer. (Diabos, se eu tivesse muita coordenação motora e noção espacial, eu não tinha reprovado o exame de carta de motorista duas vezes!)
Pelas razões precedentes, esportes em grupo são algo que eu prefiro deixar para os outros, enquanto eu fico calmamente sentado, fingindo que estou torcendo ardentemente por um time.

A terceira categoria de exercícios físicos são aqueles praticados em uma academia ou algum lugar do gênero, como musculação e natação. Vou ser bem sincero: eu, do alto dos meus fantásticos e experientes 18 anos, nunca pus meus pés numa academia de ginástica com a intenção de fazer exercícios nela. E me orgulho disso. Para mim, se o inferno não for um playground gigante cheio de crianças, com certeza é uma academia de ginástica. Uma academia de ginástica é um gigantesco templo de culto descerebrado ao corpo, cheio de máquinas que parecem ter sido desenhadas para tortura, música ruim e gente ignóbil comparando o tamanho de seus músculos. Odiável. Simplesmente odiável.

Por fim, temos a quarta categoria de exercícios físicos, com os quais eu mais me identifico: os exercícios solitários e não-competitivos, que não precisam ser praticados em qualquer lugar especificamente. Nessa categoria enquadram-se a corrida e o ciclismo, por exemplo. Embora esses possam ser praticados em competição, a maioria das pessoas não os pratica com tal intuito. E é por serem assim, solitários e não-competitivos, que eu me identifico com eles. Apesar disso, ainda não gosto deles, pelas razões que elucidarei a seguir.

Além de todos esses inconvenientes inerentes à cada categoria de exercícios, existe ainda uma série de características inoportunas presentes em todos eles: exercícios são cansativos, te deixam sujo e suado, te dão aquela sensação característica de falta de ar e ataque cardiáco iminente, e a motivação para fazê-los é uma das commodities mais raras desse braço da galáxia. Além disso, no meu caso, em específico, eles quase sempre resultam num enjôo violento e na sensação de perda de tempo. Se bem que esses últimos são bem frequentes na minha maravilhosa existência, então eu não deveria reclamar deles nesse aspecto.
Mas eu reclamo, de qualquer maneira.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Crianças

Semana passada, um primo meu de uns 9 anos ficou hospedado aqui em casa.

Companheiros, só posso lhes dizer que, a partir dessa experiência, eu descobri como deve ser o inferno.

O inferno não deve ser quente, cheio de lava e com demonios te espetando com tridentes.

O inferno, meus amigos, deve ser um playground gigante, cheio de crianças de todas as idades.

Tambem percebi como deus é misericordioso. Se ele fosse realmente cruel, ele não teria mandado todas aquelas sete pragas para o Egito. Se ele fosse realmente cruel, ele teria mandado uma meia dúzia de crianças encapetadas pro palácio do Faraó. Isso, meus amigos, seria crueldade. Perto disso, água virando sangue, enxames de gafanhotos e a morte dos primogênitos não passa de piadinha. A verdadeira praga seria um enxame de crianças.

Que praga, meu deus, QUE PRAGA.

Para mim, as crianças são a prova da filosofia de que todos nascemos com o mal dentro de nós, e cabe à sociedade controlar-nos. Uma criança ainda não foi devidamente domada, e por isso se comporta como um maldito animalzinho selvagem e odiável. O problema é que todo mundo se recusa a enxergar isso. Se um cachorro bate numa mesa e derruba um vaso, o pobre coitado pode esperar um espancamento pra aprender a se comportar. Se uma criança faz isso, ela leva (ou levaria, considerando a nova lei idiota) uma palmadinha leve e logo está livre pra infernizar o mundo de novo. Ao invés de prenderem a criança numa coleira, todo mundo diz: "deixa ela, coitada, ela só está se divertindo!"

...

Da adolescência pra frente, o ser humano tende a melhorar como pessoa conforme o tempo passa, se tornando mais controlado e calmo. Porém, nas crianças, esse processo não ocorre. De fato, muitas vezes, costuma ocorrer ao contrário: quanto mais velha, mais odiável a criança fica.

Primeiro, temos os bebês. Pra ser bem sincero, meu principal sentimento em relação aos bebês é a inveja, e não o ódio. A única coisa que um bebê faz é nada. Ele dorme 20 horas por dia, e ainda assim, é amado incondicionalmente por absolutamente todo mundo! Meu sonho de vida é receber esse tipo de sentimento depois de dormir 20 horas, e não um olhar desprezível acompanhado de um 'tá vivo, ainda?'

Bebês enchem o saco, sem dúvida. Eles choram, vomitam e babam. Mas há um ponto essencial: quem tem que lidar com isso é a mãe da criatura. Ele não vem babar e vomitar perto de mim, o que o torna tolerável. Porém, eventualmente, a criaturinha aprende a andar e falar. E então, precisamente nesse ponto, eu deixo de invejá-las e passo a dedicar todo meu espírito para odiá-las.

No que eu chamo de primeira fase da infância, de uns 2 até uns 4 ou 5 anos, a criança dedica todo o seu tempo para executar três coisas: correr, gritar e destruir. E eu sou obrigado a tirar o chapéu pra elas, porque elas fazem isso com uma maestria incomparável. Nessa fase, a criança é inconveniente sem saber disso. Assim, mesmo odiando-as, eu sou obrigado a, as vezes, aguentar e até perdoa-la - afinal, ela ainda não tem total capacidade sobre suas ações.

Porém, chega um momento em que elas desenvolvem as habilidades sociais necessárias para saberem quando estão sendo chatas e inconvienientes. Ela entra, então, na segunda fase da infância, que se extende de uns 4 ou 5 anos até uns 8 ou 9. Nessa fase, a criança sabe que pode ser insuportável, irritante, chata, e inconveniente. Contudo, ela também já desenvolveu o intelecto suficientemente pra perceber que as outras pessoas vão perdoa-la por ser chata. Então, ela entra numa nova fase: ao invés de ser chata simplesmente porque ela é, ela passa a ser chata porque ela pode ser. Então, ela começa a dedicar toda sua existência para irritar os outros, e começa a se divertir com isso. Alem de correr, gritar e destruir, ela desenvolve uma afeição pela sujeira e um horror pelo banho, ela começa a pegar coisas suas sem você deixar, ela começa a apertar seu animal de estimação até ele quase explodir, e pratica mais um sem número de atividades odiáveis. Alem disso, ela passa a ser acometida por desejos materiais, o que a leva a fazer birra, ou seja, usar sua recem-descoberta capacidade de ser irritante como moeda de barganha para conseguir que seus pais, desesperados em não irritar a sociedade com sua infernal prole, acatem à seus desejos.

Então, conforme o tempo passa, a criança maldita chega na terceira fase da infância, que se extende até sua entrada na pré-adolescência. A criança, agora, mantém praticamente todos os hábitos da fase anterior: ainda tem uma aversão assustadora pela higiene, um desrespeito completo pela noção de propriedade, e uma grande afeição pelo tripé sagrado das atividades infantis: correr, gritar e destruir. Porém, a criança, com o envelhecimento, é acometida por uma falsa sensação de experiência e autoridade. Isso a torna ainda mais insolente, e a faz ter falsas sensações de grandeza. Ela se torna, basicamente, um daqueles loucos que acham que é Napoleão.

Ao fim dessas três fases, a criança finalmente entra na pré-adolescência e, eventualmente, na adolescência, o que é, a meu ver, uma verdadeira benção. Após a puberdade, depois de sofrer a ação dos hormônios e toda aquela história, a criança finalmente vira um adolescente - o que significa que ela para de infernizar os outros e começa a angustiar única e exclusivamente à si mesma. E, por mim, ela pode pensar em se matar o quanto ela quiser - desde que ela não resolva cortar os pulsos e espirrar sangue em cima de mim.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Fanatismo e (argh) "modinhas"

O assunto da vez na intermerda são as (argh) "modinhas". (Palavra feia, essa. "Modinha". Olha que palavra mais desajeitada!)
Quero dizer, na verdade o assunto da vez sempre é uma modinha específica, mas atualmente o assunto são as (argh) "modinhas", como um todo.
E eu, como uma pessoa antenada nas atualidades (leia: uma pessoa que não tem absolutamente nada pra escrever), falarei sobre elas.

"Modinha", como se pode ver, é um diminutivo de "moda". E o que, por sua vez, é moda?
"Moda", segundo o dicionário, é:

s. f.
1. Uso passageiro que regula, de acordo com o gosto do momento, a forma de viver, de se vestir, etc.

Basicamente, a moda é um jeito que acham de fazer você vestir alguma coisa, pentear o cabelo de um jeito, ler um livro ou de te enfiar uma música goela abaixo, sem que você queira, mas sem que você possa reclamar que estão te obrigando a fazer isso, porque, afinal, você pode escolher o que você faz!
Eu não teria nada contra a moda, se ela ficasse no canto dela e não viesse me encher o saco.
O problema é que a moda é que nem uma criança chata: você pode ficar ignorando ela, mas uma hora ou outra, ela VAI vir te encher o saco.
No caso das "modinhas", elas fazem isso por meio da segunda pior criatura existente na face da terra, depois das crianças:

Os/as Fãs.

"Fã" vêm do inglês, "Fan", que por sua vez deriva de "Fanatic" (fanático). E se tem uma coisa idiota no mundo, essa coisa é o fanatismo.
O fanatismo nunca fez absolutamente nada de bom ao ser humano. O fanatismo derrubou as torres gêmeas. O fanatismo matou milhões de judeus. O fanatismo criou as cruzadas. O fanatismo, colegas, é uma merda.
Ainda assim, um número impressionante de pessoas é fanática por alguma coisa. À meu ver, isso ocorre porque as pessoas não conseguem lidar com a complexidade do mundo. São muitas coisas diferentes, muitas coisas desonhecidas, e muitas pessoas gostando de coisas diferentes e desconhecidas. Então, as pessoas tentam simplificar: elas escolhem alguma coisa que elas gostam, se focam única e exclusivamente nela, e dividem o mundo em duas partes: as pessoas que gostam dela, e as pessoas que não gostam, e pronto! Você tem um mundo bem mais simples!
O problema com os fãs é que eles fazem exatamente isso. Porém, diferente de muitas coisas pelas quais as pessoas são fanáticas, o objeto de fascinação dos fãs das "modinhas" não dura muito tempo. Eles são como uma baleia saltando: Elas vêm das profundezas escuras e frias do oceano, dão um pulo, todo mundo olha com cara de maravilhado, e então elas caem e voltam pro mar.
E o que faz o fã quando seu ídolo volta pras profundezas frias e escuras do mar do anonimato?
Simples: eles escolhem outro ídolo, para não terem que encarar o mundo em toda a sua complexidade.
E ídolos não faltam, porque é interessante criar ídolos devido ao fato de eles se revertem em dinheiro facílimo.
É como se colocassem uma rédea no indivíduo: ele tem um mundo inteiro para ir, mas só vai pra onde puxam a cabeça dele.
Mais uma vez, isso não me irritaria, pois o indíviduo que faz isso está fodendo apenas à si mesmo.
O problema é que o fã define a sua pessoa, o que ele é, como a coisa à qual ele devota seu fanatismo. Ele passa a viver exclusivamente para ela e por causa dela. E assim, quando alguem não gosta do objeto em questão, o fã se sente ofendido pessoalmente. O fã não consegue aturar o fato de que alguem não gosta do que ele gosta - afinal, a definição de fanatismo é uma "adoração exagerada, que distancia-se da racionalidade".
Então, quando ouve uma crítica, o fanático parte para a defesa irracional do objeto de adoração.

Aí é que vem a parte interessante.

Nenhum fanático vai defender o que ele gosta com argumentos válidos. Ele não vai falar da qualidade artística da música que ele ouve, nem vai defender as habilidades narrativas da autora do livro que ele gosta. Não, o fã sempre vai defender seu objeto de adoração ofendendo quem falou mal dele.
Provavelmente, ele faz isso porque, como ele se sente ofendido pessoalmente pela crítica, ele sente que o crítico deve ser ofendido pessoalmente, também.
Então em 90% das vezes, ele usa uma das três frases:
1. Você tem inveja!
2. Se você não gosta, faz melhor!
3. Você não gosta porque você (insira ofensa aqui) !

Vamos estudar esses argumentos:
1. "Você tem inveja!"
Os fãs gostam desse argumento porque ele é meio humilhante, provavelmente. O fã sabe que você não gosta do objeto em questão. Falar que você tem inveja dele é falar que você gostaria de ser como ele - o que, para quem critíca, é uma ideia até mesmo humilhante.

2. "Se você não gosta, faz melhor!"
Eu acho esse argumento especialmente interessante, porque ele demonstra a memória seletiva de um fã.
Com esse argumento, os fãs parecem se esquecer que praticamente toda a produção cultural do mundo é avaliada por pessoas que não produzem aquilo. Os filmes que concorrem ao Oscar não são avaliados por Steven Spielberg e James Cameron. Os quadros de pintores famosos não são avaliados por Picasso ou Van Gogh. Shakespeare não faz resenhas sobre os livros, dizendo se são bons ou ruins. Ainda assim, os fãs se recusam a ver isso, supondo que só quem faz uma obra prima é capaz de reclamar de outras. Ainda assim, quando a banda favorita de um fã ganha um Grammy, eles são os primeiros a alardearem o fato por aí, se esquecendo que, muito provavelmente, nenhum jurado do Grammy é músico profissional.

3. "Você não gosta porque você (insira ofensa aqui) !"
Esse é o ápice da falta de racionalidade. O fã, completamente incapaz de encontrar uma razão lógica para desmontar a crítica, começa a proferir ofensas completamente não relacionadas ao assunto. Por exemplo: "Você não gosta porque você apoia o nazismo!"

E é por isso que eu não gosto das modinhas. As modinhas em si poderiam ser ruins ou boas, mas eu não me importaria com elas. Porém, elas sempre vêm acompanhadas da manada de primatas descerebrados e irracionais chamados "fãs", e são eles que realmente me irritam. Não porque eles gostam de algo que eu não gosto, mas porque eles se recusam a aceitar que eu não gosto de algo que eles gostam.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Sono

Pra ser bem sincero, eu não gostava de dormir até a 8ª série. Naquela época, como o sono era abundante, eu não o valorizava. Eu achava dormir uma perda de tempo. Porém, com o tempo, eu percebi que o sono é a maior benção que deus não nos deu. Sono é mais ou menos como, digamos, seus pulmões: você não liga o mínimo para eles - mas quando eles começam a falhar, você percebe a importância deles. Sono é a mesma coisa: você só começa a aproveitá-lo quando ele se torna um recurso escasso. Atualmente, eu aprecio toda a beleza de uma noite bem dormida. Durante o sono, não existem preocupações: é só você, a cama, e algumas doces horas de torpor sonífero pela frente. Os problemas do mundo material desaparecem, e, no lugar, vem o mundo idílico dos sonhos. Nada de provas, contas, ou outra idiotice criada pelo homem - e sim, qualquer insanidade que seu cérebro resolva criar.
Ainda assim, mesmo sendo tão bom, o sono tem um problema: ele teima em ser completamente imprevisível. O sono é para mim como uma dama, teimosa e egocêntrica: quando ela está de bom humor, ela chega na hora certa, me embebeda, me leva para a cama e me abre as portas do glorioso reino de Morfeu. Quando eu acordo, ela se foi. Porém, na maioria das vezes, ela teima em se atrasar, e não chega não importa o que eu faça, e me mantém na cama, esperando ansiosamente por sua chegada. Quando eu, por fim, adormeço ao seu lado, sou normalmente acordado pela trombeta infernal do despertador, e me vejo obrigado a levantar enquanto ela ainda está comigo. Nesses dias, aparentemente para compensar seu atraso, ela fica ao meu lado o dia inteiro, me tentando, me chamando para a terra dos sonhos - e eu, fraco como sou, costumo ceder. Ainda assim, eu sou incapaz de odiá-la. Ela é para mim como Helena de Tróia foi para Paris, ou como Beatriz Portinari foi para Dante: apesar de me trazer problemas e não corresponder à minha adoração, eu sou incapaz de abandoná-la.

domingo, 4 de julho de 2010

Contra o ateísmo

Como eu espero que vocês saibam, queridos leitores, eu sou ateu. Portanto, é com a autoridade de um ateu assumido que eu venho lhes dar um conselho:

Por favor, fujam do ateísmo.

O ateísmo é a escolha “religiosa” mais imbecil que um ser humano pode fazer.

Enumerarei aqui alguns dos motivos que tornam o ateísmo uma escolha tão estúpida:

  1. Preconceito.

Ateus são, em termos de religião, os maiores alvos de preconceito possíveis. O preconceito contra ateus é constante e antigo. Basicamente, uma pessoa religiosa consegue tolerar o fato de que você é praticante de uma religião – qualquer religião. Porém, ela é simplesmente incapaz de aceitar o fato de que você não acredita em absolutamente nada. Para uma pessoa cristã, por exemplo, é aceitável que você seja budista, que você venere Shiva, e até tolerável que você acredite em Alá. Porém, é completamente inaceitável que você seja ateu. Você pode acreditar em absolutamente qualquer coisa – um unicórnio rosa invisível, um pote de chá no espaço – mas você tem que acreditar em algo. Não acreditar em nada não é uma opção.

2. Justiça.

O mundo é um lugar muito mais bonito para um crente. Para ele, qualquer coisa errada nessa vida – morte, guerras, assassinatos, crimes – será corrigida no além, pela justiça divina. É uma questão simples: quem é bom vai pro céu. Quem é ruim, inferno.

Um ateu não tem esse privilégio. Para um ateu, não importa se você deu dinheiro aos pobres ou roubou dinheiro deles – no final, todo mundo terá o mesmo destino. Não existe justiça divina. Para um ateu, a única esperança de justiça é a justiça humana – que é exageradamente lenta, falha e incapaz. Desnecessário dizer, o mundo se torna um lugar bem mais desprezível quando você considera que um pedófilo e um missionário, no final, vão parar no mesmo lugar.

  1. Ética e moral.

Um crente não se vê preso em dilemas morais e éticos. Para um crente, a escolha é sempre simples: faça o que o livro manda. Um ateu não tem o benefício de ter uma bíblia ou um corão – um guia, onde tudo que ele precisa fazer está escrito. Para um ateu, o que ele deve fazer numa situação depende exclusivamente dele – afinal, como eu já disse, não há justiça divina para um ateu.

  1. Morte

Um crente não vê problemas em seguir o caminho do “bem” e da “virtude” – afinal, ele terá uma ótima recompensa, no final. Para um crente, não há problema em se explodir numa estação de trem – afinal, depois daquilo, ele terá sete virgens esperando por ele no paraíso. Porém, um ateu não tem recompensa nenhuma para fazer o bem. Obviamente, sem recompensa alguma, fazer o certo se torna bem menos atraente – e um ateu se encontra frequentemente em dúvida sobre se fazer o certo vale a pena. Algo com que os crentes não precisam se preocupar.

  1. Esperança

Sempre que algo dá errado na vida de um crente, ele sempre tem a esperança de que deus está preparando algo melhor para ele. Um ateu, por outro lado, sabe que a tendência das coisas é apenas piorar. Assim, para quem não é ateu, a vida se torna bem mais despreocupada – afinal, para ele, existe alguma força superior cuidando de seu caminho.


E por hoje é só. Boa noite, crianças, escovem bem seus dentes e usem camisinha!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Como: andar de ônibus

Mais um da nova série de incrivelmente úteis e magníficos super-tutoriais pra vocês!
Hoje, titio Fábio vai ensinar vocês a pegar um ônibus!

Como pegar um ônibus

Um ônibus (do latim "omnibus", "para todos") é, pra quem nunca teve a felicidade suprema e ululante de andar num, um pedacinho do inferno sobre rodas. A finalidade de um ônibus é transportar um numero relativamente grande de pessoas, da maneira mais incofortável e demorada possível, fazendo elas pagarem por isso.


Reação de uma pessoa normal, ao saber que tem que pegar um ônibus.


Normalmente, você pega um ônibus em três situações:
1. Você quer ir do ponto x ao ponto y;
2. Você é obrigado a ir do ponto x ao ponto y;
3. Você assassinou uma criança e está pagando a penitência que o padre te deu.

As duas primeiras situações podem apresentar as seguintes variações:
-1 O ponto y é relativamente longe do ponto x, fazendo você ter que pegar um ônibus fretado ou de viagem;
-2 O ponto y é relativamente próximo ao ponto x, fazendo você ter que pegar um circular.

Vamos estudar cada uma das duas situações individualmente:

-1: Você precisa pegar um ônibus fretado ou de viagem
Essa situação é consideravelmente mais confortável que a situação -2. Para pegar um ônibus fretado ou de viagem, você precisa de:
- x (xis) dinheiros.
Você normalmente pega um ônibus desses numa rodoviária. Nelas, você se dirige ao balcão da empresa que faz a viagem que você deseja, despeja seu dinheiro sobre ele, pega sua passagem e espera o busão chegar, normalmente atrasado. Alternativamente, você pode esperar o ônibus passar em algum ponto e subir nele fora da rodoviária. Nesse caso, você não paga a taxa de embarque, barateando a passagem. Já dentro do ônibus, é uma simples questão de espera e paciência. Tais ônibus são normalmente suficientemente confortáveis para que você possa até tirar um cochilo (mas cuidado para não passar do ponto!)

Já a segunda situação é consideravelmente mais tensa.
-2: Você precisa pegar um ônibus circular
Pobre de você. Bem vindo ao 10º circulo do inferno: o círculo dos pobres, sem carta de motorista e sem carro.
Para pegar um ônibus circular, você precisa do seguinte:
- Dinheiros (2,60 em Campinas, 2,65 em São Paulo, 1,70 e qualquer coisa no Rio, e por aí vai.)
-Coragem.
-Determinação.
-Força de vontade.
(Opcional, para a hora do rush: habilidades de contorcionismo).

Munido de tudo isso, você se decide qual será o ônibus à ser tomado, e descobre o horário mais confortável para pegá-lo. Sabendo disso, você se dirige ao ponto no horário apropriado, com alguns minutos de antecedência. Chegar no ponto na hora certa é crucial, pois evita que você fique esperando 40 minutos pelo próximo ônibus daquela linha sentado nos incrivelmente confortáveis bancos de concreto do ponto (se seu ponto tiver bancos, é claro, e não for apenas uma estaca de madeira fincada na calçada ou um poste pintado). Quando você estiver no ponto, preste atenção. Ao ouvir o som de trompas flamejantes, o grito de condenados e ver um clarão de chamas infernais, observe atentamente o ônibus e veja qual linha ele faz. Pegar o ônibus certo tambem é crucial para o sucesso de sua empreitada, pois evita que você desca no meio do caminho e ande 4000 passos até sua destinação simplesmente porque subiu correndo no ônibus sem ver a linha dele. Após ter se certificado do destino do ônibus, sinalize para ele e suba na carreta do diabo.

Agora vem a parte legal. Ônibus são locais de extrema tensão social. Existe muita gente junta. Mais especificamente, muita gente retardada junta. O importante, porém, é saber que eles estão apenas te testando. Você deve resistir ao intuito de matar todo mundo com uma chave de fenda e um pacote de chá mate. Você estaria apenas satisfazendo eles.
Então, para obter sucesso, você se comporta como um autêntico autista.
Você está dentro do ônibus. Siga esse fluxograma improvisado de díficil leitura e compreensão para chegar vivo e sem sequelas permantentes no seu destino:
1. Existe lugar antes da catraca?
-Sim: Sente-se nele. Vá para 7.
-Não: Vá para 2.
2. Dirija-se para a catraca.
3. Você vai pagar como?
-Com o cartão: Coloque o cartão perto da maquininha e passe pela catraca.
-Com dinheiro: Dê o dinheiro para o cobrador, passe pela catraca, espere o troco, se tiver.
4. Você está na traseira do ônibus. Existe lugar para se sentar?
-Sim: Sente-se nele. Vá para 5.
-Não: Se fodeu. Fique em pé. Vá para 6.
5. Você está sentado. Faça cara de apático. Olhe para nenhum ponto em específico. Se tiver um fone de ouvido e ainda não o colocou, coloque-o agora. Espere até chegar em 7.
6. Você está em pé. Faça cara de apático. Olhe para nenhum ponto em específico. Se tiver um fone de ouvido e ainda não o colocou, coloque-o agora. Espere até chegar em 7.
- Caso alguem se levante e libere um lugar, vá para 4.
- Caso ninguem libere nenhum lugar, continue em 6.
7. Você está se aproximando do seu destino.
-Você está na traseira do ônibus: Vá para 8.
-Você está na frente do ônibus: Vá para 2, prossiga normalmente até 3, depois pule para 8.
8. Você está a um ponto de seu destino.
- Puxe a cordinha ou aperte o botão;
- Espere o ônibus parar no ponto de destino;
- Desca, tomando cuidado para não tropeçar, cair e morrer de traumatismo craniano depois de todo esse esforço.

Parabéns, você sobreviveu ao ônibus! Você é bom! Parabéns, campeão!

E assim, eu termino esse tutorial de essencial importância e originalidade! Boa sorte, crianças! Até a próxima!

sábado, 19 de junho de 2010

Como fazer: Relatórios

Pois bem.
Não sei se é uma tendência nova ou não, mas nos últimos tempos eu tenho visto uma quantidade excessivamente grande de gente fazendo vlogs pra reclamar das coisas da vida.
Então, como eu sou indie e da contra-cultura, vou parar de reclamar.
Até por que, quanto mais as pessoas dos vlogs reclamam, menos coisa eu tenho pra reclamar, e isso torna meu trabalho mais difícil. E eu abomino trabalho difícil, como vocês sabem.
(Eu abomino trabalho em geral, mas o trabalho difícil é ainda mais abominável.)
Eu vou então usar minha extensa sabedoria (risos) e vivência (mais risos) para ajudar vocês, pobres almas, a fazerem muitas das variadas atividades extremamente complexas da vida cotidiana.

Como eu estou engajado nisso nesse exato momento, vou ensinar vocês a fazer um relatório:

Como fazer um relatório

*Materiais necessários:

-1 (um) experimento, já pronto.

*Modo de preparo:

Então você tem um experimento e precisa transformá-lo em dados científicos, mas não sabe como? Não se preocupe, existem maneiras fáceis de fazê-lo sem necessariamente saber do que você está falando!

Basicamente, existem dois métodos de se fazer um relatório:
1. Honestamente, aprendendo toda a teoria por trás dos fatos e considerando os valores obtidos como certos e invariáveis, ou;
2. Copiando e acoxambrando.

Ambos levam ao mesmo lugar, mas o segundo é substancialmente mais fácil.
Advinha qual eu prefiro?
Para que seu relatório obtenha sucesso, você precisa dominar as duas atividades já mencionadas. Vamos discutir cada uma individualmente.

*Copiar.
A cópia é um dos pilares da filosofia preguiçal. Ela se baseia num simples raciocínio: se alguem já fez algo pra você, por que você deve repetir o esforço? É apenas um gasto de tempo e energia, que como todos sabemos são recursos finitos!
Sabendo disso, vamos aos fundamentos práticos da cópia. Uma cópia eficiente precisa de, principalmente, um bom material a ser copiado. Apenas isso! Como se vê, é algo extremamente fácil! No nosso caso, você pega um relatório já feito e discretamente copia cada letra dele, e pronto, você tem o esqueleto de seu relatório!

Agora, porem, vem a parte difícil: encaixar os dados que você obteve em seu experimento no relatório. Você normalmente não quer copiar os dados do relatório copiado, pois isso resultaria em complicações futuras. Porem, os dados obtidos muitas vezes simplesmente não se encaixam nos resultados que você espera. Qual é a solução?

*Acoxambrar!
A acoxambração é algo inerente ao ser humano. Cada pessoa nasce com a tendência de acoxambrar já profundamente arraigada ao seu ser. Porém, poucos (ou muitos...) são aqueles que aderem completamente à acoxambração e aceitam essa característica básica do homem.
Para acoxambrar, tudo que você precisa são os resultados esperados (você pode consegui-los, por exemplo, a partir do relatório utilizado na parte da cópia, para facilitar seu trabalho). Compare-os rapidamente aos resultados obtidos por você. Ambos são parecidos? Se sim, prossiga com seus cálculos, observando se seus resultados batem. Se não, utilize as técnicas já consagradas pelo grande cientista francês Jean-Pierre de l'Acochambreé:
Pegue seu resultado. Amasse-o. Incinere-o. Jogue-o no lixo. Invente outro. Seja feliz. Dance em volta da fogueira.
E pronto!

Tendo copiado e acochambrado o quanto você pode, agora é uma mera questão de encher linguiça, e pronto! Você tem um relatório perfeito, feito sem desperdício de tempo e energia!


Espero que eu tenha ajudado-os, nobres leitores, na realização dessa complexa tarefa. Boa noite a todos, e até a próxima.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Futebol

(Post chato, leia por sua própria conta e risco)

Ontem, enquanto eu jantava, eu vi na SBT (acho) uma entrevista com o nosso ilustre presidente Lula, onde ele falava (advinhem sobre o que?) da Copa do Mundo e da Seleção Brasileira. Num país onde até o presidente da república tambem acha que pode ser técnico de futebol, a época da Copa é um negócio único: o brasileiro passa 3 anos e meio xingando o país, mas nas semanas anteriores à Copa, ele compra bandeirinhas, camisetas do Brasil, e vira patriota do dia pra noite. No Brasil, o futebol é, também, o ópio do povo.

Eu não gosto de futebol. Nunca gostei. Posso até ver um jogo de futebol, mas o fervor com que certas pessoas assistem um jogo é algo que foge da minha compreensão. É algo quase religioso. A pessoa torce pelo bom desempenho daquelas 11 pessoas desconhecidas, tentando enfiar uma bola dentro de umas traves, e parece que a vida dela vai mudar drasticamente com aquilo. Parece que, se seu time ganhar, ela não vai mais precisar trabalhar, vai acordar com um carro novo na garagem e com a moça da última capa da Playboy deitada ao seu lado na cama, quando na verdade o máximo que ela vai fazer é poder repetir uma das piadinhas manjadas para seu amigo que torce pra outro time, no dia seguinte.

Quando o assunto é a Seleção Brasileira, porém, é que toda a fixação do brasileiro pelo futebol vêm a tona. Técnico da seleção é um emprego que eu não gostaria de ter. O técinco da seleção está sempre errado. Não importa se a seleção vem ganhando todos os campeonatos possíveis e imagináveis, todo mundo sempre tem uma escalação melhor. O máximo que o torcedor brasileiro consegue fazer é ignorar a opinião do técnico - mas concordar com ela, jamais!

O Brasil está invertido: Todo mundo entende tudo possível sobre futebol, mas não entende patavinas de política. Todos toleram os milhões de reais roubados em Brasília, mas ninguem suporta ver o Ganso fora da seleção. O que eu proponho é uma medida simples: ao invés de toda a população votar para presidente, senadores e deputados, e um pequeno e seleto comitê escolher o treinador da seleção, deveríamos ter o inverso: de quatro em quatro anos, votação para técnico da Seleção Brasileira - e quanto ao presidente, aos deputados e senadores, esses poderiam ser escolhidos por um comitê de pessoas entendidas do assunto.

sábado, 5 de junho de 2010

Tem alguma coisa errada.

Abro a página da Uol e vejo isso:

Shakira canta no segundo dia do Rock In Rio Madri

Essa foi uma das frases mais erradas que eu já tive a infelicidade de ler.
Primeiro, temos o já manjado problema do Rock In RIO ser em MADRID. Sério, custava chamar Rock In Madrid?
Segundo e mais importante, temos o trecho: "Shakira canta no... ROCK..."
Shakira. Rock. Shakira. Rock.

Shakira:



















Notem a cara de patricinha, os cabelos bem arrumados e a pose sensual.

Rock:



















Notem a cara de hippie, o cabelo desgrenhado e a garrafa de seja-lá-o-que-for-aquilo.
Shakira, rock?

De qualquer maneira, eu cliquei na maldita notícia e eis que leio, na legenda de uma das fotos:
"Rihanna faz show no segundo dia do Rock In Rio Madri, na Espanha. A noite ainda tem como destaque a cantora Shakira (05/06/2010) "
Putaqueopariu.
(Tive a infelicidade de ver uma foto da Rihanna, tambem. Puta merda, ela tá mais feia que eu...)
Eis que eu procuro, então, todos os artistas convidados praquela merda:

June 6

Miley Cyrus

McFly

...

...

...

Depois de uma coisa dessas, nem o show do Metallica no último dia dá algum crédito pro evento.

Tudo errado.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Sem pauta

Mais um post sem pauta, para a suprema felicidade da grande multidão que lê essa bagaça.

-Cortei meu cabelo. Agora a parte de cima do meu campo de visão não está mais escurecido pelos meus organizados fios. Em compensação, eu sinto frio na nuca. Eu nem lembrava que eu tinha uma nuca, diabos. Inferno, cheguei a sentir frio dentro da orelha. Isso comprova que meu cabelo tem outros usos alem de ser completamente anti-estético.
De qualquer maneira, no post anterior, eu esqueci de falar de uma das coisas mais chatar de cortar o cabelo: aguentar seus queridos familiares falando 'nooooooooossa, que bonitinho, cortou o cabelo?'
Sempre que me falam uma coisa dessas, tenho vontade de invocar o grande Vlad, o empalador.

-Estou escrevendo isso de Araçatuba. É bem provável que você, ilustre leitor, nem conheça Araçatuba, então permita-me apresentar a cidade: Araçatuba fica a cerca de 400km de Americana, que pos sua vez fica a mais ou menos uns 40km de Campinas. Araçatuba, apesar de estar relativamente frio atualmente, é um lugar quente. É um lugar infernalmente quente. E Araçatuba tambem aparenta ter uma concentração de bêbados muito maior que o comum. Talvez eles bebam tanto pra apaziguar o calor infernal que costuma fazer nesse lugar.
Araçatuba também está, atualmente, com uma infestação de moscas.

-Estou escrevendo isso de um laptop. Odeio teclado de laptop. É tudo tão apertado e colocado no lugar errado, e você sempre esbarra no 'mouse' e quando percebe, está escrevendo no meio de uma frase 5 linhas pra cima.

-Um pernilongo me picou perto da minha cicatriz no joelho. Pra quem reclama que tem joelho feio, sempre pense que o seu, pelo menos, não tem uma cicatriz de 4 dedos de comprimento nele. De qualquer maneira, minha cicatriz está estranha hoje. Sei lá.

-Quero jogar meu bom e velho playstation 2 de novo. Ele me acompanhou por tantos anos de nerdzagem e agora está lá, abandonado numa caixa, empoeirado...
Eu me lembro, alias, que eu ganhei ele num dia e no outro, eu vim pra Araçatuba e passei o fim de semana inteiro grudado na TV da sala, jogando insanamente... ah, bons tempos...
Naquela época se faziam bons videogames, não precisava de nenhuma viadagem tipo controle do Wii ou projeto Natal do Xbox...
Bom, chega de nerdagem

-Bem, já que estou num momento nostálgico araçatubense, vou falar da Mila. Da última vez que eu vim pra araçatuba, a Mila ainda estava viva. Pra quem não sabe, Mila era uma poodle branca, que vivia comigo faz mais ou menos o mesmo tempo que minha irmã vive comigo. Teve uma vez aqui em araçatuba que ela mordeu um sapo e começou a espumar pela boca e minha mãe saiu correndo pra levar ela no veterinário que fica muito longe daqui, mas aí ficou tudo bem. Acho que é por causa do hibisco. A Mila vivia comendo hibisco e deixava o tapete da sala tudo sujo com resto de pétalas. (Hibisco é uma flor, pra quem não sabe. Devia ser muito boa, tambem, pra ela comer daquele jeito). Quando eu for presidente do mundo, vou mandar pesquisarem o que tem no hibisco, e vão descobrir um composto insano e vão fazer uma droga de imortalidade e eu vou ficar multi-trilionário.
Não se fazem mais cachorros como antigamente... Ou fazem, acho.

Post nostálgico da porra "-.-

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Insônia e Sonolência.

insônia
s. f.
Ausência ou falta de sono.

sonolência
s. f.
1. Estado intermédio entre o sono e a atividade plena dos sentidos.
2. Disposição para o sono.
3. Modorra; torpor.
4. Fig. Torpor moral; inércia.

Por que as pessoas insistem em começar suas atividades às 6/7/8 horas da manhã?
São 6:25, é o terceiro alarme, e é hora de acordar. São seis de vinte e cinco, muito cedo para começar um dia feliz. Eu diria que é humanamente impossível acordar as 6:25 da manhã feliz, mas não, não é. Sempre existe aquele ser humano cretino que acorda cantando junto com os passarinhos, dá bom dia sorrindo pra todo mundo, e adora conversar com todas as pessoas existentes na face da Terra. Eu tenho vontade de jogar esse tipo de ser humano cretino pela janela do 12º andar de um prédio.
Eu ODEIO acordar cedo!
Me deixa de mau humor o dia inteiro, isso é, eu passei boa parte dos dias da minha vida de mau humor, mesmo! O mundo devia acordar só depois das 10, na verdade, melhor ainda seria depois do meio-dia. O dia nem é tão interessante assim. Porque não adianta o quanto você durma durante a noite, você vai passar o dia inteiro morrendo de sono, isso é fato. Sono eterno e do mal, que faz os dedos dormirem do nada, e dá vertigem quando você vira a cabeça para o lado, e faz as letras diminuírem até sumir completamente.
O período da manhã serve pra você se preparar para o resto do dia, isso é, silêncio é fundamental para isso. Mas a grande maioria das pessoas não entende isso, e querem conversar, ouvir música super alto, CANTAR, ou fazer qualquer coisa idiota que não seja simplesmente ficar quieta e dormir. Depois disso você fica vegetando o dia inteiro, dormindo por dentro o tempo todo, até umas 9 da noite. Aí o sono já começa a enjoar de você e resolve dar uma volta e fala pra insônia tomar conta enquanto ele sai. Aí pamonhou de vez né. Não há chá de camomila, dramin, mandinga, nem reza que me faça ficar com sono. Por quê? Porque eu não nasci pra viver de dia e ponto final! Eu acredito que um dia a sociedade vai entender isso e eu vou poder acordar todo dia depois do meio-dia e ir dormir só depois das 3 da manhã. Ah, quando esse dia chegar eu vou ser a pessoa mais feliz DO MUNDO.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Cabelo

Olá, nação nerd! Feliz dia da toalha!

Hoje, farei algumas considerações a respeito do meu cabelo.

Em minha singularíssima e entediante pessoa, o meu cabelo é, provavelmente, a coisa mais estranha.
Você que está lendo essa bagaça provavelmente nunca teve um cabelo que nem o meu, que tem o volume umas três vezes maior que o da sua cabeça.
Deixe-me contar como é ter um cabelo assim:
Sua vó fala que seu cabelo parece o do poodle que ela teve um dia.
Sua tia que não te vê faz alguns meses, ao te ver, não te diz 'oi!'. Ela diz: 'nossa... que que é isso?'
Quando alguem que você não vê faz algum tempo te encontra, alem de falar 'nooossa, como você cresceu', dizem tambem: 'noooossa, faz tempo que você não corta o cabelo, hein?'
Te chamam de cotonete.
Te perguntam se você que nem aquele cara da propaganda, que escondia uma bola de basquete no cabelo.
Um segurança careca diz que, quando tiver cabelo, quer que seja que nem o seu.
E por aí vai...

Pois bem, agora vem a inevitável pergunta:
Por que eu deixo meu cabelo ficar desse jeito?
Reposta:
Não, não é por estilo, não é para eu 'me dar bem com as garotas', não é pra balançar quando eu faço headbanging, não é pra vender depois que crescer mais (embora isso seja uma boa ideia...), e não é como protesto contra a burguesia inerte que se recusa a aceitar padrões estéticos diferentes dos convencionais.
É pelo mais nobre e belo dos motivos:
Preguiça.
Só pensar em ir no cabeleireiro me deixa cansado.
Cortar o cabelo é, provavelmente, a atividade relativamente frequente que eu mais odeio.
Já reclamei, nesse blog, de comprar roupas.
Eu odeio cortar o cabelo pelo menos umas 7 vezes mais que eu odeio comprar roupas.
Só de pensar em cortar o cabelo, eu já fico mais irritado.
Primeiro você sai do aconchego do seu lar, onde você poderia estar fazendo algo muito mais produtivo (leia: dormir), pra ir no cabeleireiro.
Cabeleireiro é um negócio tão ruim que até pra escrever é chato.
Depois, você chega lá e, 9 entre 10 vezes, você tem que esperar.
E demora.
Então, depois de ler alguma revista que você já leu pelo menos umas 5 vezes em outras idas ao cabeleireiro (ou barbeiro, como chamam lá em casa), você se levanta e vai cortar o cabelo.
Primeiro você lava o cabelo naquelas cadeiras irritantes. Sempre, invariavelmente, vai cair água no seu ouvido. Depois você levanta da cadeira, meio com torcicolo, e dá uma enxugada cachorra no cabelo.
Depois você se senta na cadeira e o indivíduo pega aquelas capas horríveis e te semi-enforca com ela.
E depois disso, é um longo tempo em que sua maior diversão é olhar pra sua cara no espelho, mecher nos restos de cabelo que caem e pensar em como você vai ficar com cara de ovo depois que sair.
E demora. e demora. e demora. e demora.
Aí, quando você pensa que tá acabando, demora mais um pouco.
Demora DEMAIS.
Então, quando ele acaba, ele vêm com aquele espelho pra te mostrar como ficou o corte na sua nuca.
Como se alguém ligasse pra como o corte na nuca tá. Eu, particularmente, tô desesperado demais pra arrancar aquela capa enforcante e sair voando pela porta pra ligar pra como meu cabelo vai parecer pra alguem que me olhar por trás.
E o pior de tudo: você PAGA por tudo isso.
Como se isso não fosse o suficiente, você fica cheio de cabelinhos irritantes presos na gola da camiseta e te pinicando e você tem que tomar um banho pra eles sairem.

Quando eu corto o cabelo, eu normalmente o faço com o intuito de deixá-lo curto. Cabelo curto é muito mais prático, seca rápido, e você pode acordar e sair por aí sem ele parecer um tornado.
Porém, o fato de ter que ir no barbeiro me faz desistir dessa ideia e cultivar essa zona de guerra capilar que eu chamo de cabelo.
ODEIO cortar o cabelo.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Roupas

Pauta do mimimi aleatório de hoje: comprar roupas e como isso me irrita profundamente.

Odeio comprar roupas. OK, eu sei que sou chato e tal, mas se tem um momento da minha vida que eu devo ficar insuportavel é quando vou comprar roupa. Vamos estudar o cronograma da compra de uma simples camiseta:

Eu entro na loja. Uma música moderna, muito provavelmente da beyonce ou alguma música aleatória da balada, está tocando no alto falante. Antes mesmo de eu inspirar a primeira lufada de ar saturado de oxigênio que eles colocam pra aumentar nossa sensação de euforia e induzir a compras instintivas, uma mulher jovem, absolutamente comum, se aproxima com um sorriso e faz a fatídica pergunta:
"Posso ajudar?"
Sim, por favor. Tenho relatório pra fazer, você faz pra mim?
"Sim, gostaria de comprar uma camiseta."
E pronto. Nesse instante, você acabou de dar à vendedora permissão para que ela despeje a loja inteira em cima de você. E acredite, ela vai fazer isso.
Dez segundos depois, eu estou frente a frente com uma pilha de, pelo menos, 72 camisetas, crescendo exponencialmente. Depois que a vendedora colocou entre eu e ela um pequeno Kilimanjaro de camisetas extremamente parecidas, eu garimpo algumas e as levo para o provador.
Aqui começa a via crucis da compra de roupa: determinar, em 20 segundos de prova, se uma camiseta vai ser confortável o suficiente para você usar por um dia inteiro, por vários dias da sua vida.

Como eu sou extremamente chato, ela nunca é.

Primeiramente, tem a gola. Ela sempre é apertada demais. Quero usar uma camiseta, não quero ser enforcado, diabos!
Temos tambem o fenômeno da gola em V. Uma vez uma vendedora me ofereceu camisetas com gola em V. Eu ri na cara dela.
Depois tem a manga. Todas as camisetas vendidas atualmente tem manga curta, para que você mostre a todos seu muque trabalhado. No mundo atual, é aparentemente subentendido que qualquer ser humano é bombado. Eu, por ironia do destino, não sou. Ou seja, tenho q achar uma camiseta com manga relativamente longa. Isso é muito mais dificil do que parece.
Por fim, temos o problema da estampa. Etampas de camiseta são a coisa mais absolutamente sem criatividade do mundo. Elas são tão comuns que são praicamente uma ciência. Basicamente, elas existem em 3 variações:
-Camisetas brancas: A estampa terá desenhos de relâmpagos, carros ou surf. Muito provavelmente, os três juntos.
-Camisetas coloridas, em geral: A estampa será composta por dizeres aleatórios em inglês, contendo, obrigatoriamente, uma ou mais das seguintes palavras: "Surf, skate, fatal, relax, beach, car, thunder". Ela pode, em certos casos, possuir uma ilustração dos dizeres. Em alguns raros casos, ela é listrada com um emblema no peito. O emblema, muito provavelmente, conterá uma das palavras citadas.
-Camisetas pretas: Essas destonam da tendência 'surf / skate', provavelmente porque preto não combina com surf. Camisetas pretas, por sua vez, fazem alusão a grandes cidades ou a vida noturna, muitas vezes com as palavras "urban survival" no meio.
Como é possível ver, quem não surfa, não anda de skate, não gosta de praia nem sai a noite 5 vezes por semana fica órfão de estampa de camiseta.

E nem pense em perguntar para a vendedora se tal roupa ficou boa em você: você pode parecer um saco de pão mofado, mas ela ainda vai te elogiar loucamente.

Depois de sair do provador com algumas poucas camisetas, a vendedora começa o processo desesperado de tentar empurrar mais algumas coisas para você: uma calça, um cinto, uma camiseta com gola V, um vestido, luvas de couro de tubarão, etc... Depois de se esquivar dos inúmeros ataques dela e pagar as roupas eu saio da loja. Uma profunda sensação de alívio e uma vontade de me jogar na cama me acomete.

Odeio comprar roupas.