quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Comer

Sem mais delongas, a terceira palavra que mais me irrita:

Comer.
(v. tr. Mastigar e engolir; s. m. Comida, alimento)

Vamos começar com uma ressalva: para aqueles que não me conhecem, meu estômago é ridículo. Ridículo, ridículo, ridículo. Se meu estômago fosse um livro, ele seria Crepúsculo. Se meu estômago fosse uma matéria, seria GA. Se minha vida fosse o sono, meu estômago seria o despertador.
Munidos desse conhecimento, vocês devem supor que comer não é, para mim, algo muito prazeroso. O que é completamente correto. Minha vida, companheiros, pode parecer bem chata e entediante. E bem, ela até é. Mas, na hora das refeições, ela se transforma numa batalha épica: de um lado, estamos eu e meu pobre e sofrido aparelho digestivo, presos no desfiladeiro de Termopila como os 300 soldados de Esparta, enquanto à nossa frente o gigantesco exército da comida se aproxima para nos massacrar. Nós resistimos, bravamente, vencemos algumas batalhas, e perdemos outras. Porém, a guerra continua num impasse.
O fato é que, para mim, comer é algo puramente obrigatório. É como respirar ou pegar ônibus: eu faço simplesmente porque tenho. Se alguem me chegasse aqui e agora e me oferecesse a possibilidade de nunca mais comer na vida, eu não hesitaria em aceitá-la - afinal, todo o prazer que as pessoas dizem sentir ao comer não é nada comparado à sensação de ter um boi se debatendo no seu estômago e mugindo para sair.
O fato é que as pessoas tem uma tara incompreensível pela comida. Atualmente, as atividades exercidas mais costumeiramente pelo homem (como ficar sentado na frente de uma tela digitando) não exigem grandes gastos energéticos. Assim, as pessoas deveriam comer menos, para manter um equilíbrio entre a energia adquirida e a usada. Porém, as pessoas se recusam a entender esse conceito básico de biologia. Elas comem, comem e comem, e nunca parecem estar satisfeitas. Não contentes em comer infinitamente, elas comem as coisas mais indigestas possíveis. Coisas como buchada, rabada, ossobuco, coisas com as quais meu estômago tende a se revirar só de pensar. Pior ainda, além de insistir em comer até terem gordura saindo pelos poros, elas acham estranho eu não conseguir fazer o mesmo.
Vai aí a novidade, colegas: nem todo mundo nasceu abençoado com esse presente da evolução chamado estômago funcional. Alguns, como eu, ficaram com a ponta de estoque, com os restos vendidos na liquidação. Para essas pessoas, a comida é uma necessidade - e apenas isso. Não é a razão de nossa existência: é apenas um requisito dela.

Agora, com licença, que eu vou arrumar alguma coisa pra comer. Adeus!

Nenhum comentário:

Postar um comentário