domingo, 3 de outubro de 2010

Domingo

Domingo é uma merda.

Eu sempre tive uma certa inimizade com o domingo. Na minha infância, domingo era o dia da missa. Se tinha uma coisa da minha infância que eu odiava, era a missa. Meus pais bem que tentaram me tornar uma pessoa temente a deus, mas como vocês devem ter percebido, eles não obtiveram muito sucesso. Eu credito uma grande parte disso à missa. Minhas memórias de domingo estão sempre marcadas com a esperança de não ter de ir à missa, a decepção em descobrir que eu teria de ir, a sensação de desânimo profundo no caminho até a igreja, culminando no tédio da missa em si. Um tédio gigantesco, quase uma presença física, um líquido viscoso me prendendo no banco e me impedindo de me levantar pra ouvir o evangelho. E depois de tudo isso, ao voltar para casa, o sentimento desesperador de perda de tempo.

Depois de um tempo, minhas idas à missa foram diminuindo de intensidade até se extinguirem, mas o domingo continua, com toda sua presença maléfica. Domingo é um dia ridículo por natureza. A sexta-feira marca a transição dos dias úteis, com todas suas obrigações, seus prazos, seus horários e compromissos, para os dias inúteis, cobertos de ócio, de calma, de relaxamento. No sábado, o ápice do fim de semana, chegamos o mais perto possível de uma existência meio anárquica: não há hora pra acordar, não há hora pra dormir, não há hora pra sair de casa, não há hora pra voltar pra casa. Aí, por fim, chegamos no domingo. O domingo, ao contrário da sexta, marca a transição dos dias inúteis, com sua existência desregrada e insana, aos dias úteis, com as rotinas, os despertadores, os congestionamentos e toda aquela histórinha chata que todos nós conhecemos.

Domingo é uma bosta.

Eu prefiro centenas de vezes a segunda-feira ao domingo. Eu costumo comparar o domingo e a segunda ao elevador do Hopi-Hari. A fila do elevador é, para mim, que nem o domingo: é tensa, te deixa estressado e é chata. Porém, quando você chega no elevador em si, pode ser ainda bem desconfortável, mas é substancialmente menos desconfortável que a fila, assim como a segunda-feira é bem menos irritante que o domingo. O domingo é o dia de sofrer por antecipação, e sofrer por antecipação pode ser bem pior que sofrer na hora.

Como se não bastasse o domingo ser ridículo por natureza, ainda dá-se um jeito de torná-lo ainda mais ridículo. A principal forma de fazer isso é ligar a televisão no domingo. Se você quiser ver tudo de mais desprezível que a humanidade pode lhe oferecer, é só sintonizar a televisão num canal aberto a partir das 16h da tarde de um domingo e se preparar para o festival de baixarias, piadas idiotas, jogos de futebol, matérias investigativas do Fantástico, experiências científicas fantásticas do programa da Eliana ou as coreografias da dança dos famosos no programa do Faustão. Depois disso, se você quiser ficar ainda pior, é só colocar a corda no pescoço e pular do banquinho.

E quando finalmente a madrugada se aproxima e você se vê quase livre do domingo, o domingo se recusa a te libertar. Você se vê obrigado a acordar cedo no outro dia, mas você provavelmente levantou tarde no domingo. Resultado: ao tentar ir dormir cedo, você se vê deitado na cama, rolando inutilmente esperando o sono chegar, o sono não chega, e você acorda na gloriosa segunda, morrendo de sono e esperando ansiosamente pelo próximo fim de semana pra poder dormir como um zumbi.

Odeio domingo.