domingo, 19 de dezembro de 2010

Sustentabilidade

Tenho aqui, aberta à minha frente, a edição especial da Veja, sobre a palavra da moda: "sustentabilidade".

A palavra "sustentabilidade", definida por sua criadora, Gro Harlem Brundtland, significa "encontrar uma forma de desenvolvimento que atenda às necessidades do presente sem comprometer as capacidades das próximas gerações de suprir suas próprias necessidades."

A palavra "sustentabilidade", definida por mim, significa "uma puta hipocrisia".

Quando eu ouço alguma menção à palavras como "sustentabilidade", produtos "orgânicos" ou qualquer coisa "verde", minha reação é a oposta do que se deveria esperar.
Ao invés de ouvir atentamente sobre o que eu posso fazer para ajudar o planeta, eu imediatamente bloqueio mentalmente o assunto, cobrindo-o com um grande cobertor com a palavra 'hipocrisia' bordada nele.
Porque é assim que eu vejo qualquer atitude auto-intitulada verde ou sustentável: apenas uma tentativa do indivíduo de aplacar sua consciência, achando que está ajudando o meio ambiente.

A edição da Veja dedicada à sustentabilidade possui uma seção dedicada a avaliar a eficácia das principais atitudes sugeridas pelas campanhas ambientalistas. Entre elas, existem sugestões como "deixar de imprimir documentos", "abolir a carne da dieta" ou "fazer xixi no banho".

Em nenhum momento sê vê sugestões como 'deixar de andar de carro' ou 'abolir a energia elétrica'.

Ou seja, o indivíduo que passa o dia inteiro dirigindo seu SUV que gasta dois litros de gasolina por quilômetro, come todo dia no McDonald's, gerando meia tonelada de lixo no processo, mas, ao chegar em casa, segura a vontade de mijar até a hora de tomar banho, esse indivíduo é um herói do meio ambiente.

...francamente!

As chamadas atitudes sustentáveis nunca exigem muito esforço do indivíduo. São sempre ações fáceis de serem executadas, que exigem o mínimo possível de esforço e a menor alteração possível no cotidiano da pessoa.
As campanhas ambientais se preocupam em dizer ao homem que ele deve fazer xixi no banho, mas não que ele deve parar de andar de carro. Ainda assim, todo mundo sabe que um carro é muito mais prejudicial ao meio ambiente que uma descarga. Por que as pessoas 'verdes' não param de andar de carro, então?

Porque no fundo, no fundo, elas estão pouco se fodendo com o planeta.

Apesar de todo o marketing com o meio ambiente, não houve nenhuma alteração perceptível no clima. Por isso as pessoas não tomam nenhuma atitude verdadeiramente impactante. Enquanto o nível do mar não subir ao ponto de alagar as cidades costeiras, as pessoas vão continuar mijando no banho e achando que estão salvando o planeta no processo.

A única coisa mais ridícula que as atitudes "verdes" adotadas pelas pessoas são as atitudes "verdes" adotadas por grandes companhias.

Por exemplo, a política dos créditos de carbono.
Créditos de carbono figuram numa posição proeminente na minha lista das ideias imbecis da humanidade. Pra quem não sabe, um crédito de carbono é algo que você compra pra 'neutralizar' sua poluição. É como se eu tomasse um banho por dia, e meu amigo não tomasse nenhum. Aí, ao invés de tomar um banho ele mesmo, ele começa a me pagar e eu tomo mais um banho por ele.
A ideia é completa e absolutamente imbecil, e ainda assim fez um sucesso estrondoso. A razão? Porque exige pouco esforço. Você continua fodendo o mundo, mas agora você paga pra ter alguem fodendo ele menos do outro lado, e segue sua vida feliz e despreocupado.

...francamente!

Na gloriosa Veja com a qual eu abri esse texto, há uma propaganda da Petrobras. Nela, há um texto dizendo que "a Petrobras acredita que é possível conciliar a exploração de petróleo e gás e o equilíbrio do meio ambiente".
A cara de pau do departamento de publicidade da Petrobras me impressiona.

Na mesma revista, a última página é dedicada a uma pesquisa sobre as atitudes dos brasileiros para diminuir o impacto ambiental. Uma grande foto da Gisele Bündchen, vestida de lingerie, ilustra a página. O texto informa que ela "decidiu apoiar a campanha pelo xixi no chuveiro".

...
...
...francamente!


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Duas considerações finais:

Inicialmente, gostaria que todo mundo que ficou puto com o estado de abandono desse blog no último mês pegue tifo. Ele esteve abandonado por dois motivos: o primeiro se chama "fim de semestre". O segundo, muito mais importante e nobre, se chama "preguiça".

Segundamente, gostaria de salientar que há três dias atrás, no dia 17, esse blog completou um ano de existência.
Eu poderia usar esse espaço pra agradecer à todos os leitores, com sua paciência e sua atenção.

Mas não vou.
Ao invés disso, vou desejar à todos vocês uma infecção alimentar causada pela lentilha do ano-novo.

Morram, malditos!

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