quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Um breve apelo

Uma pausa nos posts sobre minhas 5 palavras anti-preferidas para assuntos de importância mundial.

Vou lhes contar uma breve história de algo que ocorreu comigo, hoje de manhã.
Eu estava saindo do prédio, apressado pra caralho, prestes a perder o busão.
Quando eu passei na portaria, a porteira me perguntou se eu era filho de uma Cláudia.
(Não, eu não sou)
Então ela falou algo que eu não entendi direito porque sou surdo e porque tinha um caminhão passando.
Mas pelo que eu entendi, o filho da supracitada mulher se mudou para o prédio e ela pensou que ele fosse eu, 'aquele garoto simpático, que fala bom-dia, porque os outros passam e nem falam nada."
Ela disse essas palavras.
Pois bém, eu estava atrasado, então eu subi a rua meio correndo e cheguei no ponto.
Só então, quando eu estava parado lá, esperando o ônibus, é que aquilo me atingiu como uma tijolada epifânica no estômago. Foi como se Jack Swigert aparecesse na minha frente e falasse: "We have a problem".
Ela achou que eu era simpático.
Quem me conhece sabe que eu não sou simpático. Eu sou rabugento, velho, irônico, chato e anti-social. Simpatia não encaixa nisso aí. Porém esse não é o problema. Ela não me conheçe, afinal.
O problema é que ela achou que eu era simpático exclusivamente pelo fato de que eu passava pela portaria e falava "bom dia".

...porra!

Eu sei que a gente vive num mundo desprezível e ridículo. Eu tenho consciência disso. Mas quando parei pra pensar, eu percebi o estado em que estamos.
Estamos vivendo num mundo onde as pessoas te consideram simpático por falar "bom dia".
Bom dia.
Duas palavras. Duas palavras pequenas.
Existe algum esforço monumental em falar elas que eu não notei?
Porra.

Quando eu era pequeno, minha mãe me ensinava a ser educado, a falar obrigado e essas coisas. Até hoje ela me fala disso.
Agora eu fico aqui pensando comigo mesmo: que que a mãe desses indivíduos ensinam pra eles quando eles são pequenos?
"Filho, não fale bom dia pro porteiro. Ele é um semi-analfabeto sujo e desgraçado."
"Filho, não pare pra deixar o pedestre atravessar. Pedestres são todos trouxas."
"Filho, pode sujar todo o chão da casa. Quem vai limpar vai ser a otária da empregada, mesmo!"

Portanto, eu venho, hoje, lhes fazer um apelo.
Um apelo bem clichê, bem no estilo propaganda de cidadania da rede Globo:

Caros leitores e dignas leitoras, por favor, eu lhes peço: sejam educados.

Não estou pedindo nada complicado demais. Não estou pedindo que você se ofereça pra fazer faxina na casa de um desconhecido. Não estou pedindo pra você emprestar dinheiro pra um estranho no elevador. Estou pedindo só uma coisa: seja minimamente civilizado.
Não estou nem pedindo pra você ser alguem legal, se você notou. Por mim, você pode ser um excomungado de um filho da puta. Mas, por favor, seja um filho da puta educado!
Se você não sabe como, vou te explicar. É bem simples:
Fale 'bom dia' pro porteiro. Fale 'obrigado' pro cobrador do ônibus. Fale 'saúde' se alguem espirrar. Se você tiver um carro, deixe aquela pobre velhinha atravessar a rua. Não alimente os animais. Não pise na grama. Sorria, você está sendo filmado.
Não é algo complicado, como você pode ver. Até alguem como eu consegue fazer.

Portanto, meus colegas, tentem tornar o mundo um lugar minimamente menos desgraçado. Eu sei que já estamos num ponto sem volta na escala de filha-da-putice humana, mas vamos nos comportar como senhores elegantes e civilizados enquanto o grande navio chamado planeta Terra afunda, certo?

4 comentários: