terça-feira, 31 de agosto de 2010

Trabalhar

E com vocês, a palavra que eu mais detesto:

trabalhar
v. intr.
1. Fazer algum trabalho.
2. Lidar; empenhar-se, diligenciar, procurar.
3. Exercer a actividade

Vamos começar com a resposta de uma pergunta que vocês, sem dúvida, farão:
"Mas porra, você já trabalhou?!?!"
Não. Nunca trabalhei.
Tambem nunca ateei fogo em mim mesmo, mas sei que deve ser, digamos, desconfortável. Nunca me joguei da varanda do apartamento, mas não preciso fazer isso pra saber que deve ser meio dolorido. Do mesmo modo, não preciso ter trabalhado pra saber que o trabalho é uma merda.

O trabalho é, sem duvida nenhuma, a pior invenção da história da humanidade. Não ligo pro fato de que a humanidade não existiria sem o trabalho. A humanidade não é lá grande coisa; entre a humanidade e o trabalho ou nenhum dos dois, eu escolheria alegremente a segunda opção.
O problema é que nossos antepassados escolheram a primeira. Provavelmente porque o cérebro deles ainda era meio símio.
(E agora, com vocês, o esperado momento da revolta histórica do post!:)
Caramba, estava tudo perfeitamente sob controle! Viviamos (nós, a humanidade. Não eu e você) uma vida calma e alegre, colhendo plantas pela mata, caçando animaizinhos indefesos e, quando tudo ficava meio desesperador, nos uniamos e matavamos um mamute! Estava tudo perfeito e ideal: tinhamos a dose certa de comida, a dose certa de descanso, a dose certa de sono e a dose certa de mortes precoçes causadas por doenças virulentas, ferimentos gravíssimos e tigres de dente-de-sabre. Viviamos a vida que a natureza, em toda sua inteligência, planejou para nós.
Mas a natureza, coitada, se esqueceu que sempre existe um filho da puta.
Nesse caso, o filho da puta falou: "Que será que acontece se eu pegar esses grãozinhos e jogar nuns buraquinhos na terra?"
Nesse momento, a natureza provavelmente disse, com os olhinhos arregalados:
"Porra. Fodeu."
Eis que é criada a agricultura. A invenção que permitiu ao homem sair de uma vida nômade e viver no mesmo lugar todo dia, olhando pra mesma paisagem entediante todo dia, arando o mesmo pedaço de terra todo dia e comendo trigo todo dia.
Mas não, o ser humano não estava satisfeito. Eis que aparece outro (sim, outro!) filho da puta. Esse diz: "Será que as pessoas aceitariam o fato de eu dizer que, ao invés de trabalhar, eu deveria cuidar das questões governamentais da vila?"
E sabe o que é pior?
Aceitaram.
E assim, depois de criar o primeiro trabalho, o ser humano criou o primeiro vagabundo: o político.
Mas xingar os políticos fica pra outro post.
O fato é que, com a comodidade criada com a agricultura e sob o comando "inteligente" de um líder, as primeiras cidades cresceram e se multiplicaram. Com isso veio o comércio, o alfabeto, a matemática, os comerciantes, os advogados, os cientistas, os chefes, e uma legião de outros filhos da puta, cada um se preocupando desesperadamente em desvirtuar ainda mais o plano de vida que a natureza criou para nós.

E chegamos aonde estamos:
Ao invés de dormir quando cai a noite, acordar quando raia o dia, colher mangas numa mata e caçar animais indefesos com lanças quando a fome fica muito forte, nós atualmente acordamos antes de o sol nascer, trabalhamos que nem condenados para ganhar um punhado de papel com uns números escritos, compramos nossa comida já morta e se decompondo, chegamos no nosso lar quebrados e destroçados, assistimos a novela e vamos dormir MUITO depois de o sol se pôr.

Alguem além de mim nota o problema nisso aí?
Antes do trabalho, era tudo na dose certa. A gente dormia o quanto precisava, comia o quanto precisava, não tinha rotina, não cortava o cabelo e morria aos 25 assassinado por um leão.
Depois do trabalho, a gente dorme pouco, come muito, têm uma rotina maçante e chata, corta o cabelo todo mês e ou morre aos 30 assassinado por outra pessoa, ou aos 60 de alguma doença que a gente não teria se tivesse morrido aos 25 assassinado por um leão.
Tudo isso pra que?
Pra poder comprar um carro do ano (e chegar mais cedo no trabalho, assim podendo dormir uns 10 minutos a mais), uma televisão de 42 polegadas e um computador (pra poder ver melhor a novela e twittar sobre ela, ao invés de ir dormir mais cedo), comer carne de faisão (que a gente comeria naturalmente depois de caçar eles) e comprar remédio (pra tratar das doenças que a gente não teria se morresse aos 25 assassinado por um leão).
Como vocês podem ver, a gente trabalha pra fazer exatamente o que a gente faria (ou não precisaria fazer) se não trabalhasse!

E algumas pessoas ainda tem a cara de pau de glorificar o trabalho:
"O trabalho enriquece o homem!"
Não. O trabalho enriquece ALGUNS homens. O resto continua pobre e tendo que trabalhar que nem escravo pra ter o que comer;

"Por mais humilde que seja, um bom trabalho inspira uma sensação de vitória ."
(Jack Kemp, jogador de futebol americano e político)
Ah, tá. Disse o cara com o os dois trabalhos mais difíceis do mundo. Quero ver se ele diria isso se fosse um limpador de fossa.

"O trabalho agradável é o remédio da canseira."
(William Shakespeare)
E lá se vai nosso caro Willianzinho falando merda de novo. O remédio da canseira não é o trabalho. Essa é a CAUSA da canseira. O remédio pra canseira é o descanso. Vai ver por isso tem esse nome.

"O trabalho é, na maioria da vezes, o pai do prazer."
(Voltaire)
Ah, sim. Isso explica porque, na maioria das vezes, as pessoas ficam desesperadas pra sair do trabalho. Ninguem gosta de atividades prazerosas.

"O único lugar no mundo onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário."
(Vidal Sasson)
Já ouviu falar de um tal de Justin Bieber, senhor (ou senhora) Sasson?

E, pra terminar, uma que eu concordo:
"Meu pai me ensinou a trabalhar, não me ensinou a amar o trabalho."
(Abraham Lincoln)
E com essas sábias palavras do tio Abe, eu me despeço de vocês e termino essa maldita série de posts.
Bom trabalho a todos.

domingo, 29 de agosto de 2010

Estudar

Mil perdões pela demora, cavalheiros e damas. Estava caçando patos.

estudar (v. tr.)
1. Frequentar as aulas de.
2. Fazer o possível para conhecer ou compreender.
3. Analisar atentamente.

Aaah, o estudo. Admito, é uma atividade tão nobre, tão bela. Uma das poucas características que se salva no poço de nojeira que é o ser humano.
Se é assim por que eu o odeio?
Pra quem, assim como eu, já percebeu que esse texto não vai dar em nada, vou falar as 3 principais razões e vocês podem ir embora.

1.Estudar é frustrante.
2.Estudar é inútil.
3. Estudar me priva do ócio.

Pra quem quer continuar perdendo tempo, aí vão as explicações:

1. Estudar é frustrante.
Vou admitir, quando eu estudo e as coisas dão certo, eu até sinto uma certa alegria, até consigo sentir o prazer de ter o conhecimento fazendo o seu ninho no meu cérebro.
O problema é que o estudo só dá certo uma vez a cada 5 alinhamentos planetários. No resto do tempo, dá tudo errado: a conta não dá certo, se dá certo, a resposta não bate com o gabarito, e se bate, é porque você desistiu e viu a resolução em algum lugar.
Isso tira o ânimo de estudar de qualquer um. Afinal, qual é a sua vontade de fazer alguma coisa quando você sabe que ela vai dar miseravelmente errado?
Aí temos o próximo problema: descobrir porque você errou. Ou seja, após ter a frustração de ver que seu exercício, resolvido com tanto amor e carinho, está completamente errado, você precisa destrinchá-lo, procurando onde exatamente você fez merda. Aí vem o problema: o seu cérebro é completamente imparcial. Ele vai teimar ao máximo em admitir que você errou. Ele sempre vai tentar botar a culpa em outra coisa. Então, após cinco minutos procurando um erro, você chega a conclusão óbvia e ululante: o gabarito tá errado.
Ah, quem dera o mundo fosse tão simples...

2. Estudar é inútil.
Nem quase todo estudo é inútil, mas a maioria é. Basicamente, se todo o esforço e frustração mencionados no último item tivessem uma finalidade óbvia e uma aplicação imediata e útil, seria tudo válido e você não reclamaria em fazê-lo. Porém, a utilidade dos tópicos estudados costuma se esconder desesperadamente. Isso quando ela existe. Por isso, a pergunta mais proferida por estudantes do mundo todo, dia após dia, é sempre:
"Pra que serve isso?"
Claramente, qualquer motivação que você tenha em estudar, digamos, números complexos, não sobrevive ao fato de que a utilidade deles é nula.

3. Estudar me priva do ócio.
Essa é, obviamente, a principal razão para eu não gostar de estudar. O maior defeito do estudo não é ser frustrante ou inútil, mas sim me fazer acordar antes das 11h da manhã.
Como vocês todos sabem, espero, eu sou um profundo apreciador de todas as atividades que não exijam gasto de energia. Entre essas, a mais nobre, fantástica e suprema é o sono. Quando algo me priva do sono, eu sigo meus básicos instintos animais e passo a odia-la. Ocorre exatamente isso com o estudo (por favor, desconsideremos o fato de que eu durmo na aula). O estudo me faz acordar cedo, sair de casa e me locomover para fazer algo inutil e frustrante. Se o estudo não existisse, eu seria um feliz e alegre urso pardo em estado constante de hibernação.
Como diz meu pai, a única coisa que eu faço da vida é estudar. Portanto, se eu não estudasse, eu não faria nada, e viveria uma bela e utópica vida de vadiagem até o dia em que eu morresse de inanição!

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Um breve apelo

Uma pausa nos posts sobre minhas 5 palavras anti-preferidas para assuntos de importância mundial.

Vou lhes contar uma breve história de algo que ocorreu comigo, hoje de manhã.
Eu estava saindo do prédio, apressado pra caralho, prestes a perder o busão.
Quando eu passei na portaria, a porteira me perguntou se eu era filho de uma Cláudia.
(Não, eu não sou)
Então ela falou algo que eu não entendi direito porque sou surdo e porque tinha um caminhão passando.
Mas pelo que eu entendi, o filho da supracitada mulher se mudou para o prédio e ela pensou que ele fosse eu, 'aquele garoto simpático, que fala bom-dia, porque os outros passam e nem falam nada."
Ela disse essas palavras.
Pois bém, eu estava atrasado, então eu subi a rua meio correndo e cheguei no ponto.
Só então, quando eu estava parado lá, esperando o ônibus, é que aquilo me atingiu como uma tijolada epifânica no estômago. Foi como se Jack Swigert aparecesse na minha frente e falasse: "We have a problem".
Ela achou que eu era simpático.
Quem me conhece sabe que eu não sou simpático. Eu sou rabugento, velho, irônico, chato e anti-social. Simpatia não encaixa nisso aí. Porém esse não é o problema. Ela não me conheçe, afinal.
O problema é que ela achou que eu era simpático exclusivamente pelo fato de que eu passava pela portaria e falava "bom dia".

...porra!

Eu sei que a gente vive num mundo desprezível e ridículo. Eu tenho consciência disso. Mas quando parei pra pensar, eu percebi o estado em que estamos.
Estamos vivendo num mundo onde as pessoas te consideram simpático por falar "bom dia".
Bom dia.
Duas palavras. Duas palavras pequenas.
Existe algum esforço monumental em falar elas que eu não notei?
Porra.

Quando eu era pequeno, minha mãe me ensinava a ser educado, a falar obrigado e essas coisas. Até hoje ela me fala disso.
Agora eu fico aqui pensando comigo mesmo: que que a mãe desses indivíduos ensinam pra eles quando eles são pequenos?
"Filho, não fale bom dia pro porteiro. Ele é um semi-analfabeto sujo e desgraçado."
"Filho, não pare pra deixar o pedestre atravessar. Pedestres são todos trouxas."
"Filho, pode sujar todo o chão da casa. Quem vai limpar vai ser a otária da empregada, mesmo!"

Portanto, eu venho, hoje, lhes fazer um apelo.
Um apelo bem clichê, bem no estilo propaganda de cidadania da rede Globo:

Caros leitores e dignas leitoras, por favor, eu lhes peço: sejam educados.

Não estou pedindo nada complicado demais. Não estou pedindo que você se ofereça pra fazer faxina na casa de um desconhecido. Não estou pedindo pra você emprestar dinheiro pra um estranho no elevador. Estou pedindo só uma coisa: seja minimamente civilizado.
Não estou nem pedindo pra você ser alguem legal, se você notou. Por mim, você pode ser um excomungado de um filho da puta. Mas, por favor, seja um filho da puta educado!
Se você não sabe como, vou te explicar. É bem simples:
Fale 'bom dia' pro porteiro. Fale 'obrigado' pro cobrador do ônibus. Fale 'saúde' se alguem espirrar. Se você tiver um carro, deixe aquela pobre velhinha atravessar a rua. Não alimente os animais. Não pise na grama. Sorria, você está sendo filmado.
Não é algo complicado, como você pode ver. Até alguem como eu consegue fazer.

Portanto, meus colegas, tentem tornar o mundo um lugar minimamente menos desgraçado. Eu sei que já estamos num ponto sem volta na escala de filha-da-putice humana, mas vamos nos comportar como senhores elegantes e civilizados enquanto o grande navio chamado planeta Terra afunda, certo?

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Comer

Sem mais delongas, a terceira palavra que mais me irrita:

Comer.
(v. tr. Mastigar e engolir; s. m. Comida, alimento)

Vamos começar com uma ressalva: para aqueles que não me conhecem, meu estômago é ridículo. Ridículo, ridículo, ridículo. Se meu estômago fosse um livro, ele seria Crepúsculo. Se meu estômago fosse uma matéria, seria GA. Se minha vida fosse o sono, meu estômago seria o despertador.
Munidos desse conhecimento, vocês devem supor que comer não é, para mim, algo muito prazeroso. O que é completamente correto. Minha vida, companheiros, pode parecer bem chata e entediante. E bem, ela até é. Mas, na hora das refeições, ela se transforma numa batalha épica: de um lado, estamos eu e meu pobre e sofrido aparelho digestivo, presos no desfiladeiro de Termopila como os 300 soldados de Esparta, enquanto à nossa frente o gigantesco exército da comida se aproxima para nos massacrar. Nós resistimos, bravamente, vencemos algumas batalhas, e perdemos outras. Porém, a guerra continua num impasse.
O fato é que, para mim, comer é algo puramente obrigatório. É como respirar ou pegar ônibus: eu faço simplesmente porque tenho. Se alguem me chegasse aqui e agora e me oferecesse a possibilidade de nunca mais comer na vida, eu não hesitaria em aceitá-la - afinal, todo o prazer que as pessoas dizem sentir ao comer não é nada comparado à sensação de ter um boi se debatendo no seu estômago e mugindo para sair.
O fato é que as pessoas tem uma tara incompreensível pela comida. Atualmente, as atividades exercidas mais costumeiramente pelo homem (como ficar sentado na frente de uma tela digitando) não exigem grandes gastos energéticos. Assim, as pessoas deveriam comer menos, para manter um equilíbrio entre a energia adquirida e a usada. Porém, as pessoas se recusam a entender esse conceito básico de biologia. Elas comem, comem e comem, e nunca parecem estar satisfeitas. Não contentes em comer infinitamente, elas comem as coisas mais indigestas possíveis. Coisas como buchada, rabada, ossobuco, coisas com as quais meu estômago tende a se revirar só de pensar. Pior ainda, além de insistir em comer até terem gordura saindo pelos poros, elas acham estranho eu não conseguir fazer o mesmo.
Vai aí a novidade, colegas: nem todo mundo nasceu abençoado com esse presente da evolução chamado estômago funcional. Alguns, como eu, ficaram com a ponta de estoque, com os restos vendidos na liquidação. Para essas pessoas, a comida é uma necessidade - e apenas isso. Não é a razão de nossa existência: é apenas um requisito dela.

Agora, com licença, que eu vou arrumar alguma coisa pra comer. Adeus!

domingo, 8 de agosto de 2010

Acordar

A quarta palavra que eu mais odeio:

Acordar.
(v.intr. Sair do sono)

Como eu espero que todos tenham percebido, eu tenho uma certa adoração pelo sono, já explicada em posts anteriores.
Eu idolatro, porém, o sono brando, ininterrupto, do qual você, ao acordar, se sente na liberdade de virar para o lado e retomá-lo. Eu idolatro o sono calmo e despreocupado das férias, dos feriados, do final de semana, da tarde preguiçosa na casa da sua vó ou da sua tia, depois do almoço. Não o sono bruscamente assassinado pelo grasnar irritante do despertador. Não o sono dos dias úteis, não o sono de segunda a sexta. Esse é o sono decepcionante, o sono que é sempre insuficiente.

O sono, como eu já expliquei, é algo fantástico. É a fuga ideal dos problemas e preocupações do dia-a-dia. Você chega em casa, depois de um dia fodido, tira os sapatos, toma um banho, mas nada disso retira dos seus ombros a frustração da rotina. É apenas quando você encosta a cabeça no travesseiro, apenas quando a areia mágica dos bons sonhos cai sobre seus olhos, que a paz vêm até você. É algo incrível, genial...

Até que, as 6:30 da manhã, o apitar incessante do despertador te retira desse mundo onírico, te joga de volta ao desprezível planeta Terra e te condena à um dia corroído pelo sono.

O sono, companheiros, não é como uma vaca, que você pode domesticar facilmente, chamar de Mimosa e ordenhar quando bem entender. O sono é como a Corça de Cerineia, com chifres de ouro, pés de bronze e uma velocidade assustadora, enquanto nós somos como Hercules, fadados à persegui-la por anos a fio, tentando capturá-la e domá-la. Alguns, como meu pai, por exemplo, conseguem. Outros, como eu, falham miseravelmente. Em suma, o sono é indomável, teimoso, esquivo, imprevisível.

Porém, o ser humano é incapaz de aceitar isso. Ele se recusa a aceitar que o sono é algo que simplesmente não pode ser controlado. Então, ele tenta domá-lo, usando o artifício mais cruel já inventado: o despertador.
O despertador é a invenção mais filha-da-puta da face da terra. Ele retira o prazer do sono, transforma-o numa obrigação. Chega a ser triste dormir sabendo que no dia seguinte seu sono será cruelmente mutilado pelo despertador. E é ainda mais triste acordar com o agudo ralhar da máquina infernal no seu ouvido, gritando para que você acorde para mais uma dose diária de tédio, frustração e revolta.
Pior que isso, apenas o botão soneca. O botão soneca é a coisa mais atroz (pra não dizer idiota) que já passou pela cabeça de um homem. O despertador, como diz o nome, serve para despertar. Colocar um botão soneca no despertador é de uma crueldade sem fim. Ao invés de você se levantar de uma vez, se livrando rapidamente da tortura do despertador, você se vê apertando aquele botão maldito a cada cinco minutos, alimentando a doce ilusão de que aquele sono será o realmente recompensador, agindo como um moribundo se prendendo desesperada e irracionalmente aos fiapos de vida restantes em seu corpo. O cara que inventou essa merda devia ser processado em Haia por crimes contra a humanidade.

Como vocês vêem, acordar cedo é algo que pode acabar com o dia de qualquer um. O sono é algo feito para ser praticado de acordo com o indivíduo, pelo período que ele bem deseja, e não algo à ser programado e padronizado, como uma máquina. Você não pode dizer à um homem que ele deve medir 1,7 metros, calçar 40 e ter a pele clara. Por que, então, você deveria dizer à ele que ele têm de acordar as 6:30 da manhã?

sábado, 7 de agosto de 2010

Exercício

Iniciarei, hoje, aqui e agora, uma série de posts sobre as 5 palavras que eu mais odeio (ou, pra ser mais específico, que representam as 5 coisas que eu mais odeio). Começarei da 5ª e seguirei em ordem crescente, até o ápice final e extasiante de minha inútil e delirante revolta.

Com vocês, a quinta palavra que eu mais odeio:

Exercício

e.xer.cí.cio

sm (lat exercitiu) 1 Ato de exercitar ou exercer. 2 Qualquer atividade efetuada ou praticada com o fim de desenvolver ou melhorar um poder ou habilidade específicos. 3 Atividade corporal com o fim de desenvolver e manter a aptidão física. 4 Ação ou série de ações corporais, ideadas e prescritas para prática regular ou repetida como meio de ganhar força, destreza, agilidade ou competência geral em algum campo de atividade.

Eu odeio, mais especificamente, nos sentidos 3 e 4, de 'exercício físico'.
"Nossa, mas exercício é tão bom, faz bem pra saúde, libera serotonina e dopamina no sangue, te deixa magro e bombado! Por que você não gosta, maldito filisteu?", vocês me perguntam?
E eu respondo: porque eu sou um maldito sedentário preguiçoso que não engorda por nada.
A principal motivação que as pessoas têm pra fazerem exercícios é emagrecerem e se manterem no padrão estético da sociedade normal.
Quando você não precisa fazer absolutamente nenhum esforço pra ficar no padrão, você perde a maior parte das motivações palpáveis e fica só com os inconvenientes do exercício. Que, à meu ver, são muitos.
Primeiramente, irei destrinchar os tipos diferentes de exercício que as pessoas fazem.
Existem, para mim, 4 categorias de exercício físico.

A primeira envolve esportes, de fato, interessantes, como, sei lá, caça de faisões, esqui ou hóquei. Traduzindo, esportes que a maioria dos pobres mortais é incapaz de praticar.

A segunda envolve esportes em grupo, como futebol, vôlei, basquete, polo aquático e coisas do gênero. Eu não gosto desses por dois motivos:
1. Tais esportes exigem, do participante, um bom desempenho individual para o sucesso do time como um todo. E eu, como qualquer pessoa que tenha visto meu avantajado físico, não tenho capacidade de me manter no nível do grupo. Portanto, quando alguma merda acontece, eu fico entre os culpados.
2.Tais esportes são competitivos. Competição, nos esportes, exige uma alta dose de raciocínio rápido, coordenação motora, grande noção espacial e uma fina sintonia com o resto do time. Coisas que não ganhei em abundância ao nascer. (Diabos, se eu tivesse muita coordenação motora e noção espacial, eu não tinha reprovado o exame de carta de motorista duas vezes!)
Pelas razões precedentes, esportes em grupo são algo que eu prefiro deixar para os outros, enquanto eu fico calmamente sentado, fingindo que estou torcendo ardentemente por um time.

A terceira categoria de exercícios físicos são aqueles praticados em uma academia ou algum lugar do gênero, como musculação e natação. Vou ser bem sincero: eu, do alto dos meus fantásticos e experientes 18 anos, nunca pus meus pés numa academia de ginástica com a intenção de fazer exercícios nela. E me orgulho disso. Para mim, se o inferno não for um playground gigante cheio de crianças, com certeza é uma academia de ginástica. Uma academia de ginástica é um gigantesco templo de culto descerebrado ao corpo, cheio de máquinas que parecem ter sido desenhadas para tortura, música ruim e gente ignóbil comparando o tamanho de seus músculos. Odiável. Simplesmente odiável.

Por fim, temos a quarta categoria de exercícios físicos, com os quais eu mais me identifico: os exercícios solitários e não-competitivos, que não precisam ser praticados em qualquer lugar especificamente. Nessa categoria enquadram-se a corrida e o ciclismo, por exemplo. Embora esses possam ser praticados em competição, a maioria das pessoas não os pratica com tal intuito. E é por serem assim, solitários e não-competitivos, que eu me identifico com eles. Apesar disso, ainda não gosto deles, pelas razões que elucidarei a seguir.

Além de todos esses inconvenientes inerentes à cada categoria de exercícios, existe ainda uma série de características inoportunas presentes em todos eles: exercícios são cansativos, te deixam sujo e suado, te dão aquela sensação característica de falta de ar e ataque cardiáco iminente, e a motivação para fazê-los é uma das commodities mais raras desse braço da galáxia. Além disso, no meu caso, em específico, eles quase sempre resultam num enjôo violento e na sensação de perda de tempo. Se bem que esses últimos são bem frequentes na minha maravilhosa existência, então eu não deveria reclamar deles nesse aspecto.
Mas eu reclamo, de qualquer maneira.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Crianças

Semana passada, um primo meu de uns 9 anos ficou hospedado aqui em casa.

Companheiros, só posso lhes dizer que, a partir dessa experiência, eu descobri como deve ser o inferno.

O inferno não deve ser quente, cheio de lava e com demonios te espetando com tridentes.

O inferno, meus amigos, deve ser um playground gigante, cheio de crianças de todas as idades.

Tambem percebi como deus é misericordioso. Se ele fosse realmente cruel, ele não teria mandado todas aquelas sete pragas para o Egito. Se ele fosse realmente cruel, ele teria mandado uma meia dúzia de crianças encapetadas pro palácio do Faraó. Isso, meus amigos, seria crueldade. Perto disso, água virando sangue, enxames de gafanhotos e a morte dos primogênitos não passa de piadinha. A verdadeira praga seria um enxame de crianças.

Que praga, meu deus, QUE PRAGA.

Para mim, as crianças são a prova da filosofia de que todos nascemos com o mal dentro de nós, e cabe à sociedade controlar-nos. Uma criança ainda não foi devidamente domada, e por isso se comporta como um maldito animalzinho selvagem e odiável. O problema é que todo mundo se recusa a enxergar isso. Se um cachorro bate numa mesa e derruba um vaso, o pobre coitado pode esperar um espancamento pra aprender a se comportar. Se uma criança faz isso, ela leva (ou levaria, considerando a nova lei idiota) uma palmadinha leve e logo está livre pra infernizar o mundo de novo. Ao invés de prenderem a criança numa coleira, todo mundo diz: "deixa ela, coitada, ela só está se divertindo!"

...

Da adolescência pra frente, o ser humano tende a melhorar como pessoa conforme o tempo passa, se tornando mais controlado e calmo. Porém, nas crianças, esse processo não ocorre. De fato, muitas vezes, costuma ocorrer ao contrário: quanto mais velha, mais odiável a criança fica.

Primeiro, temos os bebês. Pra ser bem sincero, meu principal sentimento em relação aos bebês é a inveja, e não o ódio. A única coisa que um bebê faz é nada. Ele dorme 20 horas por dia, e ainda assim, é amado incondicionalmente por absolutamente todo mundo! Meu sonho de vida é receber esse tipo de sentimento depois de dormir 20 horas, e não um olhar desprezível acompanhado de um 'tá vivo, ainda?'

Bebês enchem o saco, sem dúvida. Eles choram, vomitam e babam. Mas há um ponto essencial: quem tem que lidar com isso é a mãe da criatura. Ele não vem babar e vomitar perto de mim, o que o torna tolerável. Porém, eventualmente, a criaturinha aprende a andar e falar. E então, precisamente nesse ponto, eu deixo de invejá-las e passo a dedicar todo meu espírito para odiá-las.

No que eu chamo de primeira fase da infância, de uns 2 até uns 4 ou 5 anos, a criança dedica todo o seu tempo para executar três coisas: correr, gritar e destruir. E eu sou obrigado a tirar o chapéu pra elas, porque elas fazem isso com uma maestria incomparável. Nessa fase, a criança é inconveniente sem saber disso. Assim, mesmo odiando-as, eu sou obrigado a, as vezes, aguentar e até perdoa-la - afinal, ela ainda não tem total capacidade sobre suas ações.

Porém, chega um momento em que elas desenvolvem as habilidades sociais necessárias para saberem quando estão sendo chatas e inconvienientes. Ela entra, então, na segunda fase da infância, que se extende de uns 4 ou 5 anos até uns 8 ou 9. Nessa fase, a criança sabe que pode ser insuportável, irritante, chata, e inconveniente. Contudo, ela também já desenvolveu o intelecto suficientemente pra perceber que as outras pessoas vão perdoa-la por ser chata. Então, ela entra numa nova fase: ao invés de ser chata simplesmente porque ela é, ela passa a ser chata porque ela pode ser. Então, ela começa a dedicar toda sua existência para irritar os outros, e começa a se divertir com isso. Alem de correr, gritar e destruir, ela desenvolve uma afeição pela sujeira e um horror pelo banho, ela começa a pegar coisas suas sem você deixar, ela começa a apertar seu animal de estimação até ele quase explodir, e pratica mais um sem número de atividades odiáveis. Alem disso, ela passa a ser acometida por desejos materiais, o que a leva a fazer birra, ou seja, usar sua recem-descoberta capacidade de ser irritante como moeda de barganha para conseguir que seus pais, desesperados em não irritar a sociedade com sua infernal prole, acatem à seus desejos.

Então, conforme o tempo passa, a criança maldita chega na terceira fase da infância, que se extende até sua entrada na pré-adolescência. A criança, agora, mantém praticamente todos os hábitos da fase anterior: ainda tem uma aversão assustadora pela higiene, um desrespeito completo pela noção de propriedade, e uma grande afeição pelo tripé sagrado das atividades infantis: correr, gritar e destruir. Porém, a criança, com o envelhecimento, é acometida por uma falsa sensação de experiência e autoridade. Isso a torna ainda mais insolente, e a faz ter falsas sensações de grandeza. Ela se torna, basicamente, um daqueles loucos que acham que é Napoleão.

Ao fim dessas três fases, a criança finalmente entra na pré-adolescência e, eventualmente, na adolescência, o que é, a meu ver, uma verdadeira benção. Após a puberdade, depois de sofrer a ação dos hormônios e toda aquela história, a criança finalmente vira um adolescente - o que significa que ela para de infernizar os outros e começa a angustiar única e exclusivamente à si mesma. E, por mim, ela pode pensar em se matar o quanto ela quiser - desde que ela não resolva cortar os pulsos e espirrar sangue em cima de mim.