segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Crianças

Semana passada, um primo meu de uns 9 anos ficou hospedado aqui em casa.

Companheiros, só posso lhes dizer que, a partir dessa experiência, eu descobri como deve ser o inferno.

O inferno não deve ser quente, cheio de lava e com demonios te espetando com tridentes.

O inferno, meus amigos, deve ser um playground gigante, cheio de crianças de todas as idades.

Tambem percebi como deus é misericordioso. Se ele fosse realmente cruel, ele não teria mandado todas aquelas sete pragas para o Egito. Se ele fosse realmente cruel, ele teria mandado uma meia dúzia de crianças encapetadas pro palácio do Faraó. Isso, meus amigos, seria crueldade. Perto disso, água virando sangue, enxames de gafanhotos e a morte dos primogênitos não passa de piadinha. A verdadeira praga seria um enxame de crianças.

Que praga, meu deus, QUE PRAGA.

Para mim, as crianças são a prova da filosofia de que todos nascemos com o mal dentro de nós, e cabe à sociedade controlar-nos. Uma criança ainda não foi devidamente domada, e por isso se comporta como um maldito animalzinho selvagem e odiável. O problema é que todo mundo se recusa a enxergar isso. Se um cachorro bate numa mesa e derruba um vaso, o pobre coitado pode esperar um espancamento pra aprender a se comportar. Se uma criança faz isso, ela leva (ou levaria, considerando a nova lei idiota) uma palmadinha leve e logo está livre pra infernizar o mundo de novo. Ao invés de prenderem a criança numa coleira, todo mundo diz: "deixa ela, coitada, ela só está se divertindo!"

...

Da adolescência pra frente, o ser humano tende a melhorar como pessoa conforme o tempo passa, se tornando mais controlado e calmo. Porém, nas crianças, esse processo não ocorre. De fato, muitas vezes, costuma ocorrer ao contrário: quanto mais velha, mais odiável a criança fica.

Primeiro, temos os bebês. Pra ser bem sincero, meu principal sentimento em relação aos bebês é a inveja, e não o ódio. A única coisa que um bebê faz é nada. Ele dorme 20 horas por dia, e ainda assim, é amado incondicionalmente por absolutamente todo mundo! Meu sonho de vida é receber esse tipo de sentimento depois de dormir 20 horas, e não um olhar desprezível acompanhado de um 'tá vivo, ainda?'

Bebês enchem o saco, sem dúvida. Eles choram, vomitam e babam. Mas há um ponto essencial: quem tem que lidar com isso é a mãe da criatura. Ele não vem babar e vomitar perto de mim, o que o torna tolerável. Porém, eventualmente, a criaturinha aprende a andar e falar. E então, precisamente nesse ponto, eu deixo de invejá-las e passo a dedicar todo meu espírito para odiá-las.

No que eu chamo de primeira fase da infância, de uns 2 até uns 4 ou 5 anos, a criança dedica todo o seu tempo para executar três coisas: correr, gritar e destruir. E eu sou obrigado a tirar o chapéu pra elas, porque elas fazem isso com uma maestria incomparável. Nessa fase, a criança é inconveniente sem saber disso. Assim, mesmo odiando-as, eu sou obrigado a, as vezes, aguentar e até perdoa-la - afinal, ela ainda não tem total capacidade sobre suas ações.

Porém, chega um momento em que elas desenvolvem as habilidades sociais necessárias para saberem quando estão sendo chatas e inconvienientes. Ela entra, então, na segunda fase da infância, que se extende de uns 4 ou 5 anos até uns 8 ou 9. Nessa fase, a criança sabe que pode ser insuportável, irritante, chata, e inconveniente. Contudo, ela também já desenvolveu o intelecto suficientemente pra perceber que as outras pessoas vão perdoa-la por ser chata. Então, ela entra numa nova fase: ao invés de ser chata simplesmente porque ela é, ela passa a ser chata porque ela pode ser. Então, ela começa a dedicar toda sua existência para irritar os outros, e começa a se divertir com isso. Alem de correr, gritar e destruir, ela desenvolve uma afeição pela sujeira e um horror pelo banho, ela começa a pegar coisas suas sem você deixar, ela começa a apertar seu animal de estimação até ele quase explodir, e pratica mais um sem número de atividades odiáveis. Alem disso, ela passa a ser acometida por desejos materiais, o que a leva a fazer birra, ou seja, usar sua recem-descoberta capacidade de ser irritante como moeda de barganha para conseguir que seus pais, desesperados em não irritar a sociedade com sua infernal prole, acatem à seus desejos.

Então, conforme o tempo passa, a criança maldita chega na terceira fase da infância, que se extende até sua entrada na pré-adolescência. A criança, agora, mantém praticamente todos os hábitos da fase anterior: ainda tem uma aversão assustadora pela higiene, um desrespeito completo pela noção de propriedade, e uma grande afeição pelo tripé sagrado das atividades infantis: correr, gritar e destruir. Porém, a criança, com o envelhecimento, é acometida por uma falsa sensação de experiência e autoridade. Isso a torna ainda mais insolente, e a faz ter falsas sensações de grandeza. Ela se torna, basicamente, um daqueles loucos que acham que é Napoleão.

Ao fim dessas três fases, a criança finalmente entra na pré-adolescência e, eventualmente, na adolescência, o que é, a meu ver, uma verdadeira benção. Após a puberdade, depois de sofrer a ação dos hormônios e toda aquela história, a criança finalmente vira um adolescente - o que significa que ela para de infernizar os outros e começa a angustiar única e exclusivamente à si mesma. E, por mim, ela pode pensar em se matar o quanto ela quiser - desde que ela não resolva cortar os pulsos e espirrar sangue em cima de mim.

Um comentário:

  1. "maldito animalzinho selvagem e odiável" UHASUHSUHSAUHUHAS raxei... vou passar esse link pra sua tia pilantra xD

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