segunda-feira, 11 de abril de 2011

Culpado

E agora estão tentando botar a culpa do massacre do Realengo nos video-games violentos.

Com isso temos mais um culpado na lista, junto ao bullying, o islã, a esquizofrenia, as armas legais nas ruas, as armas ilegais nas ruas, os testemunhas de Jeová, a Al-Qaeda, os computadores, a internet, a maçonaria e os Illuminatti.

Em meio a toda a tragédia desse caso, pode-se verificar um comportamento comum do ser humano: a necessidade de encontrar um culpado pra tudo.

Em situações normais, costuma-se apresentar como culpado a primeira pessoa que se vê na frente. Porém, no massacre de Realengo, nos vemos frente à um dilema: o principal culpado já está morto! E, como todos nós sabemos, botar a culpa em gente morta tem bem menos graça que em gente viva!

Assim, sem ver o que fazer, a sociedade se contenta com uma solução sub-ótima: culpar qualquer coisa que pareça ter relação com o crime. Não se culpa por razão, se culpa por conveniência.

E, também por conveniência, só se culpam coisas com as quais a sociedade se sinta confortável em culpar. Ao acharem elos do atirador com comunidades islâmicas, a culpa do ato foi imediatamente depositada nelas. Porém, as menções à Jesus, presentes na própria carta do atirador, foram interessantemente ignoradas.

É fácil notar-se, porém, que culpar coisas como religião, ideais ou objetos não satisfaz a índole humana. Para que o homem se contente, ele deve colocar a culpa do ato sobre outro homem.

Portanto, para sanar esse e diversos outros problemas, eu sugiro a simples "criação" de um Culpado oficial.
O Culpado se tornaria simplesmente mais um cargo, um homem escolhido de alguma maneira para servir de bode expiatório para a população. Quando qualquer acontecimento ocorresse que causasse a ira do povo, porém onde não houvesse um indivíduo específico para o qual essa ira pudesse ser dirigida, lá estaria ele, o Culpado, pronto para receber de ouvidos atentos os xingamentos enraivecidos e irracionais da população!

Assassinatos não solucionados? Corrupção? Aquecimento global? Amor não correspondido? Todos nós poderíamos colocar, convenientemente, a culpa desses e de muitos outros problemas em uma única figura, disposta a admiti-la!

Seria o fim do ato de culpar filmes sangrentos e video-games violentos pelas mazelas do mundo, e o começo de uma nova e gloriosa era de raiva dirigida única e exclusivamente contra o Culpado!