segunda-feira, 28 de março de 2011

Falta de Assunto

Uma crônica sobre a angustiante incapacidade produtiva de um aspirante a projeto de escritor.

Por F. Abreu

Depois de longos períodos de especial inatividade, eu repentinamente me lembro do estado de deplorável abandono desse blog e decido: "hoje sai um texto". Me preparo mentalmente para a extenuantíssima atividade da escrita o dia todo. Passo um longo tempo procurando alguma boa ideia, algum bom tópico, sem, porém, obter sucesso, até que eventualmente, ao cair da noite, me encontro defronte à tela branca. Decido prosseguir mesmo assim. Quem sabe uma visita de ultima hora por parte da minha cara Inspiração não me permita a escrita de uma magnum opus?

Encaro o espaço em branco, cheio de potencial, à minha frente. Meus dedos pairam sobre o teclado. Minha mente se desdobra no esforço de desenterrar algo interessante de suas profundezas. O momento climático que demarca o ínicio da escrita se aproxima! Até que, de repente...

Não acontece merda nenhuma.

Desrespeitando o momento anticlimático, tento começar de qualquer maneira. Rabisco umas duas frases, que são imediatamente descartadas. Tento começar de novo. Não funciona. As palavras não se encaixam. As frases não fazem sentido. As letras se embaralham.

Volto à estaca zero. A tela branca à minha frente. A barra de texto piscando.
Clic. Clic. Clic. Clic.
Como se estivesse me desafiando.

Um banho, eu decido. As grandes ideias sempre vêm nos banhos.
Arquimedes gritou "Eureka!" ao submergir em uma banheira. Newton descobriu os princípios básicos da mecânica sob o gotejar de um chuveiro. Gutenberg inventou a imprensa durante um banho. Kekulé descobriu a estrutura do benzeno ao ver uma cobra comendo a própria cauda no chão do box. Momofuku Ando inventou o miojo ao tomar um banho especialmente quente.

Porém, mesmo com a intensa e inútil atividade cerebral que acompanha um banho, nenhuma ideia me vem a mente.

Comida, penso eu. Quem sabe meu cérebro funcione melhor com o estômago cheio.
Obviamente, após a refeição, entro no meu estágio pessoal de depressão pós-alimentar. Enquanto isso, meu cérebro continua se recusando permanentemente a trabalhar.

Tento várias outras artimanhas, sem sucesso. No ápice de minha angústia, recorro à medidas drásticas. Procuro alguma notícia na internet, porem a única coisa que encontro são importantíssimas informações sobre a mais recente prova do líder do BBB. Procuro algo de interesse em alguma revista, sem encontrar nada. Ligo a televisão, porem nem o bombardeio de raios catódicos melhora minha condição.

É isso, penso eu. Não há mais opções.
Olho para os lados, certificando-me de que ninguém me verá cometendo tal ato.
Respiro fundo, me preparando para o último dos truques de um indivíduo sem assunto...

E começo a escrever sobre a falta de assunto em si.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Quarta-feira

Quarta-feira idiota. Quarta-feira ridícula.

Detesto quartas-feiras.
(Alias, se alguem aí souber qual é a regra pra plural de dias da semana, por favor me avise lá nos comentários. Ficarei muito agradecido)

Vejam bem, os dias da semana têm um equilibro muito balanceado e profundamente estudado. Nos dois primeiros dias, a falta de perspectiva existencial e o profundo tédio são contra-balanceados pelo excesso de energia proveniente das horas de sono extra do fim de semana. Já nos dias próximos ao final da semana, a falta de energia e o cansaço profundo são minimizados pela perspectiva ensolarada do glorioso fim de semana. A quarta-feira, porem, foge desse harmonioso yin-yang. Trancada no meio da semana, quando ela chega você já se vê cansado e quebrado, porem ainda obrigado a enfrentar a metade restante da semana pela frente. É uma bosta.

Mas como se não bastasse a quarta-feira ser escrota por sua posição semanal, ela ainda se esforça pra ser escrota por si só. É como se as grandes forças controladoras do universo se focassem para imbecilizar o dia. Os detalhes conspiram constantemente contra você. Eu acordo numa quarta-feira e sempre me pego preparando-me psicologicamente para um dia imbecil pela frente. Porém, sou sempre surpreendido: o dia foi ainda mais inútil que eu havia previsto!
Quartas-feiras são, em suma, meu inferno astral particular.

Que o grande e inexistente deus amaldiçoe as quartas-feiras.