sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Vegetarianismo

Regojizai, amigos! Esse blog ainda vive!

Como uma fênix, retorno das cinzas para falar sobre um assunto relativamente polêmico:
Vegetarianismo.

Pra quem porventura não saiba, vegetarianos são pessoas que abdicam de comer carne e passam a subsistir unicamente de mato e, em alguns casos, ovos, leite e derivados. Existem vegetarianos menos fervorosos, que comem até peixe, e vegetarianos extremamente fanáticos, que se recusam a andar em carros com banco de couro. A grande maioria deles, porém, deixa de comer carne por sentir algo parecido com dó dos pobres animaizinhos sacrificados para serem comidos.

Pois bem, minha singela opinião é que o fato do ser humano comer carne foi a melhor coisa que já aconteceu para os animais que são comidos.

Antes que os vegetarianos de plantão comecem a me xingar, vamos analisar alguns números:

Esse é o gorila-das-montanhas. Nativo das montanhas vulcanicas da África Central, esses animais chegam a 1,90m de altura e são cerca de dez vezes mais fortes que um jogador de futebol americano.

Restam cerca de 790 no mundo.

Essa é uma baleia azul. Ela chega a 30 metros de comprimento, a altura de um prédio de uns 10 andares, e seu coração é do tamanho de um carro. É o maior animal que já viveu na Terra.

Existem, no máximo, 12 mil delas vivas.


Essa é uma ararinha-azul. Elas estão extintas na natureza; restam 85 vivas em cativeiro.

O que há em comum entre esses animais?

Eles não são criados pelo ser humano para servirem como alimento.

Agora, vamos examinar o outro lado:

Essa é uma vaca. Vacas são dóceis, grandes, gordas e idiotas. Seus passatempos preferidos são ruminar, mugir, serem culpadas pelo aquecimento global e ruminar mais um pouco.

Existem 1,3 bilhão delas no mundo.
Existem tantas vacas no mundo quanto existem chineses.
Não sei se alguém aqui já notou, mas tem chinês pra caralho no mundo.

Nessa foto, temos um porco e seu semelhante menor de idade, um porquinho. Porcos tem focinhos bizarros e seus pulmões são pequenos em relação a seus corpos, tornando-os suscetíveis a sofrerem de pneumonia e bronquite, o que pode rapidamente matá-los. Como se não bastasse, eles são a matéria prima da carne que, ao ser misturada com sangue de unicórnio e esperma de fadas, gera o bacon, a unica boa razão para se acreditar que Deus existe.

Existem cerca de 2 bilhões de porcos vivos no mundo. Dois bilhões, pra quem não sabe, é um número de 10 digitos. Com 2 bilhões de reais você compra mais de sete Boeing 767, que levam, cada um, até 375 pessoas. Resumo da ópera: 2 bilhões é muita coisa.

Aqui temos um galo e uma galinha, respectivamente. Galinhas estão, atualmente, na 3ª posição do Ranking Abreu de Pássaros mais Escrotos da Terra, atrás apenas de avestruzes e de emas. Galinhas andam de um jeito altamente tosco, parecem estar constantemente em estado de perigo máximo, não conseguem voar e são mais burras que um pão de forma integral.

Existem mais de 24 bilhões de galinhas vivas na Terra. Deixe-me repetir, vinte e quatro bilhões.
Para cada ser humano vivo, você tem mais de três galinhas.

Imagine-se sentado aí no seu computador com três galinhas ciscando no seu pé. Imaginou?

Agora imagine isso para cada. Pessoa. Da Terra.

Agora, me respondam: o que há de igual entre esses últimos três animais apresentados?
Exatamente, colegas: eles são criados aos montes para serem impiedosamente devorados pelas pessoas.

Notaram a diferença?

Do ponto de vista puramente evolutivo, as criaturas de maior sucesso no planeta são justamente as mais consumidas pelo ser humano. Elas vivem em segurança, sem predadores e não estão nem perto de estarem ameaçadas de extinção. Isso assegura que elas se reproduzam e perpetuem a espécie, o que, biologicamente falando, é o motivo pelo qual os seres vivos existem. E elas fazem isso como?

Sendo devoradas pelos não-vegetarianos.

Ou seja, nós, carnívoros, não somos monstros sem coração e egoístas que não ligam pros animais. Pelo contrário: nós gostamos tanto deles que fazemos esse gigantesco sacrifício de comê-los para que, assim, eles possam continuar sendo criados as pencas e não sejam extintos. E essa é a única razão pela qual comemos carne. Não é porque comer bacon é o equivalente degustativo de dormir por 10 horas seguidas ou porque comer mato é ruim por bosta. É simplesmente porque nós os amamos!

terça-feira, 19 de julho de 2011

Porque eu não quero ter filhos

Boa noite.

Quem me conhece sabe que eu não quero ter filhos.
E isso, colegas, é por uma única razão:
Seria muito filho da puta da minha parte botar uma criança no saco que esse mundo tá virando.

Pra explicar isso, vamos fazer uma comparação do mundo civilizado na época dos meus pais, na minha época, na época atual, e então extrapolaremos isso pra possível época do meu filho:

Na época dos meus pais, pelo que eu sei após ouvir as histórias deles, as crianças tinham uma juventude relativamente simples. Elas comiam o que quer que aparecesse pela frente devido a mais pura falta de opção, e ficavam alucinados quando achavam um pedaço de pau na rua porque isso significava que eles poderiam jogar o citado pedaço de pau em alguém e, com sorte, mandá-lo pro hospital.

Uma geração depois, meus pais fizeram a cagada de me botar no mundo. Na minha infância, a sociedade estava se sofisticando, porém ainda tinhamos uma juventude despreocupada. Não nos preocupavamos, por exemplo, em saber quantas calorias tinham as coisas que comiamos. Muito pelo contrário, a gente comia coisas altamente porcas, criadas especialmente pra ferrar nosso corpo. Coisas como chocolate guarda-chuva, bolacha recheada, moedas de chocolate, etc. Ninguem olhava um rótulo de comida naquela época pra saber se o negócio tinha muita gordura trans ou se era feito de trigo transgênico, e se fosse, ninguém ligava. Podia ter porra de elefante na nossa comida que todo mundo ia comer feliz e contente.

O Ministério da Saúde adverte:
Chocolate guarda-chuva causa buracos no seu pâncreas.

Outra coisa despreocupada era o entretenimento. As crianças ainda gostavam de jogar pedaços de pau na cabeça dos outros - porém, uma criança ficava completamente ensandecida quando via algum jogo de video-game, especialmente os mais violentos, do tipo Street Fighter, Doom ou GTA. Ninguém ligava pro fato de você ficar trancado no seu quarto atirando nos outros.

Arrancar a cabeça dos outros:
Entretenimento de qualidade!

Aí, vinte anos depois, chegamos à situação deplorável em que vivemos hoje.

Vou ilustrar essa situação deplorável com um vídeo: o mais novo comercial do Pão de Açucar:

(Notem, por favor, que eu sou completamente incapaz de colocar um vídeo no meio do post. Vai aí o link pra quem quiser assistir ele decentemente:


...

Só tenho uma coisa a dizer:
Que família INSUPORTÁVEL.

Essa propaganda exemplifica perfeitamente o meu argumento, senhoras e senhores:
O mundo tá ficando um saco.

Porra. Quando eu era criança, a gente gostava de comer toda aquela porcariada sobre a qual eu já falei. Hoje em dia, por outro lado, as crianças ficam preocupadas em ter lanchinhos saudáveis, preparados com ingredientes orgânicos.

Quando eu era criança, nossa diversão era matar os outros no video-game. A diversão das crianças de hoje, por sua vez, é separar o lixo. Economizar água. Salvar o mundo.

Porra!

O mundo tá virando um lugar insuportável, companheiros, e só tende a piorar. E é por isso que eu não quero ter filhos. Imagina só o saco completo que vai ser a época que ele nascer.

Pior ainda, imagina se ele nascer e virar uma criança insuportável que nem a do video acima?
Imagina se ele falar pra eu mijar durante o banho pra economizar a água da descarga?
Eu não aguentaria, meus amigos. Seria o maior fracasso da minha vida: um filho ecologicamente correto.

_________________________________________________

Notem, por favor, que eu disse que não quero ter filhos. Nunca exclui a possibilidade de ter filhos, vejam bem. Eu só queria esclarecer que, no caso de eu de fato ter um filho, cuidarei dele com carinho, amor e dedicação.

E, em minha homenagem, nomearei ele de "Fábio", assim como o pai. Ele se chamará, então, Fabio Jr.

Só pela piada.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Um Ode à Comida

Eu não aguento mais o arroz
Já não gosto também do feijão
O bife já não me seduz;
Toda aquela mastigação!
Eu não quero mais comer pizza
Muito menos comer macarrão
Não quero nem frango, nem peixe
Comer: que chateação!

Não gosto de nenhuma comida
Nada mais me faz salivar
Quando olho para um prato, só penso:
"Que saco, preciso almoçar!"
Não gosto de ir em restaurante
Nem se for pra comer caviar!
Há coisas mais legais pra se fazer
Por exemplo, dormir ou repousar!

Sempre que me sento em uma mesa
Logo vem o mesmo assunto:
"Carne assada, linguiça e bolacha;
Frango frito, polenta e presunto!"
Enquanto isso eu fico calado
Como se eu não fosse nativo desse mundo:
As pessoas dividindo suas receitas
E eu ali, num tédio profundo.

Ainda mais chato que comer
É o ato da digestão:
Meu estômago tenta trabalhar
E o enjôo me atinge, então
O sono ataca o meu corpo,
Me dá vontade de deitar no chão
Me sinto cheio e estufado
Comer me dá depressão!

Então não me ofereça uma salada
Não a quero nem com molho!
Por favor, pegue esse chuchu
e enfie no meio do seu olho!
Não quero mais saber de comida
Nem frita, assada ou cozida
O que eu quero é fazer fotossíntese;
Viver do sol, isso é que é vida!

terça-feira, 21 de junho de 2011

Eu não gosto de baleias.

Eu já obtive um bom número de reações diferentes quando conto pras pessoas que eu não gosto de baleias.

Nenhuma delas, nunca, foi positiva. Nenhuma. Reações comuns são a incompreensão, a raiva ou a incredulidade, mas nunca passam pelo espectro da empatia ou da aceitação.

E as pessoas ficam ainda mais confusas quando eu digo que eu não gosto de baleias porque tenho medo delas.

"Mas caramba, as baleias tão lá quietinhas no canto delas! Elas não vão te fazer nada!"

Foda-se. Ainda cago de medo quando penso numa baleia jubarte pulando do meu lado, ou quando me imagino num barquinho com uma gigantesca baleia azul espirrando água ao meu lado, ou ainda quando imagino a pior de todas, o cachalote, se engalfinhando com uma lula gigante.

Não é um medo racional, eu admito. É uma fobia.

Mas aí é que fica injusto. Ter aracnofobia, por exemplo, é perfeitamente aceitável. Ter medo de altura, completamente normal. E ninguém nunca te repreenderá se você tiver triscaidecafobia, que é o medo do número 13.

Porém, medo de baleias é completamente inaceitável.

Uma baleia azul. Agora imagine você, pequeno e
indefeso, nadando do lado dessa merda.

Meu medo de baleias começou quando eu recebi um site com a representação de uma baleia azul, em tamanho real, com os malditos barulhos que elas fazem tocando no fundo. Foi algo que me assustou profundamente.

Por volta dessa época, eu também conheci o "Bloop".

O "Bloop" foi um som captado por microfones submarinos no oceano Pacífico, que lembra sons emitidos por animais. O problema é que, pra que algum animal tivesse emitido aquele som, ele deveria ser bem maior que uma baleia azul. E o problema com isso é que é algo perfeitamente provável. O mar é um lugar tão bizarro que é perfeitamente possível que um bicho gigante que coma cachalotes de aperitivo exista.

Após essa época da minha vida, eu passei a abominar completamente o mar. Essa abominação era inicialmente dedicada em sua maioria às baleias azuis, porém ela rapidamente se expandiu à basicamente qualquer coisa que viva abaixo de 3cm de água (e várias coisas que vivem acima de 3cm de água, também). Entre essas criaturas odiáveis estão águas-vivas, moréias, anêmonas, peixes-palhaço, linguados, arraias, tubarões (especialmente o tubarão-baleia), carangueijos, lagostas, esponjas e pepinos-do-mar. A única excessão à essa lista são os peixes-boi, que são basicamente os bichos preguiça do mar.

Entre todas as criaturas marinhas, porém, existem duas às quais eu dirijo especial animosidade.

Essas são os já citados cachalotes e os cefalopódes.

Um maldito cachalote.
Uma observação: Essa porra aí é um filhote.

Cachalotes são as maiores baleias dentadas existentes. Entre suas agradáveis habilidades estão: produzirem os sons mais altos do reino animal, permanecerem submersas em profundidades de mais de 3km por períodos superiores a 90 minutos e darem cabeçadas em barcos quando se sentem ameaçadas até eles afundarem.

Um animal amabilíssimo.

Entre os componentes da dieta do cachalote estão os animais que eu mais odeio na face da terra:

Uma das primeiras imagens de uma Lula Gigante viva.
Por mim, poderiam ser também as últimas.

Lulas gigantes. Dez tentáculos com ventosas serrilhadas, um bico duro com centenas de pequenos dentes, controlados por um animal com um sistema nervoso complexo guiado pelos maiores olhos do reino animal. Se alguém conseguir gostar dessa merda, por favor me explique como.

E eu vou parar esse post por aqui antes de começar a xingar as criaturas abissais. Porque se eu começar a xingar elas hoje, eu posso facilmente passar uma semana nisso.

O mar é uma bosta. Ponto.

sábado, 11 de junho de 2011

Mensagem de amor

Hoje é dia 12 de Junho, dia da Independência nas Filipinas.
Um dia tão bom quanto qualquer outro, eu decidi, para fazer uma homenagem à minha amada.
Portanto, se você veio aqui esperando um texto raivoso e reclamante, vai se decepcionar.
Porque hoje escreverei algumas palavras a ela.

Ela, que sempre me faz companhia, seja nas tardes quentes ou nas gélidas madrugadas.
Ela, que está sempre junto a mim, na alegria, na tristeza, na riqueza e na pobreza, para o bem e para o mal.
Ela, que nas raríssimas ocasiões em que se separa de mim, me deixa deprimido, entediado, entristecido e desesperado.
Ela, que apesar de possuir conhecimento incomparável, não é orgulhosa, e está sempre disposta a dividir sua sabedoria comigo.
Ela, que sempre tenta me entreter nos momentos de tédio.
Ela, que me faz rir das coisas mais improváveis e vive tentando me alegrar.
Ela, que me civilizou, me trouxe cultura e conhecimento.
Ela, que apesar de tudo não é ciumenta, e até mesmo me ajuda a manter contato com outras pessoas.
Ela, que não é rancorosa nem vingativa, e está sempre disposta a me perdoar.
Ela, minha amada, minha querida.

Ela, a Internet.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Eu não gosto de Faroeste Caboclo

Vou emputecer meio Brasil falando isso, mas alguma hora alguém tem que falar, né.

Eu não suporto mais o Faroeste Caboclo.

Primeiro porque venhamos e convenhamos, ela é uma música altamente superestimada.
Porra, querem até fazer um filme baseado na música.
Um filme. Baseado numa música.

Francamente, é de cair o cu da bunda.

Tratam o Faroeste Caboclo como se fosse a merda do hino do Brasil, só porque tem 7 minutos e o Renato Russo não repete a letra.
Grande merda.

7 minutos? Grande merda. Essa aqui tem 22. Só a primeira parte.


Fora que eu nunca entendi direito a letra, mas isso já pode ser incapacidade da minha parte.

MAS não é por razões artísticas que eu não gosto do Faroeste Caboclo. Afinal, tem muita coisa que eu não gosto por razões artísticas e nenhuma delas recebe a honra de ser mencionada aqui.

Eu não gosto mesmo do Faroeste Caboclo por razões mais, digamos, sociais:

Devido ao seu status como hino não-oficial do Brasil, decorar a letra do Faroeste Caboclo é aparentemente algo do qual as pessoas se orgulham. E não basta ela se orgulhar, ela ainda se sente obrigada a mostrar que ela decorou a letra. Isso leva a situações um tanto quanto desagradáveis:

Situação Hipotética:
Pessoa 1: E aí, você gosta de Legião?
Pessoa 2: Ah, eu não conheço muita coisa deles, só Faroeste Caboclo...
Pessoa 3 (que chegou na conversa agora): O que? Faroeste Caboclo?!?!? ESSA MÚSICA É FODA CARA!!!
Nesse momento, a pessoa 3 começa a cantar a desgraça da música, enquanto um coro de cidadãos desesperadas pra mostrar que também decoraram a música se juntam a ela, e você passa os próximos 5 minutos ouvindo um monte de gente desafinada balbuciar em unísono sobre como o João de Santo Cristo roubava a igreja e comia todas as menininhas da cidade.

Ao final de uma situação como essa eu, particularmente, me sinto no estado de espírito necessário para matar um filhote de Koala.

Sério, pessoas. Precisa cantar? Tem maneiras muito mais agradáveis de mostrar que você é fã. Tipo, sei lá, vestir uma camiseta com a cara aidética do Renato Russo estampada.

Agora, cantar uma música por aí não é uma maneira agradável de mostrar que você gosta dela. Pelo contrário, é uma maneira de estragar a música, afinal de contas a voz humana cantando desafinada é quase tão desagradável quanto um solo de gaita de foles. É uma prática odiável, irritante, que só me trouxe más experiências até hoje.

E não é só com Faroeste Caboclo que isso acontece, infelizmente. Faroeste Caboclo é só um caso especialmente irritante desse fenômeno, mas muitas outras músicas são acometidas por ele.
Tipo a discografia inteira da banda Pedra Letícia.
Banda essa que, aliás, é atualmente a segunda banda que eu mais odeio, exatamente por causa disso. (Sempre que eu ouço alguém cantando Teorema de Carlão eu tenho uma vontade quase incontrolável de pular numa piscina de chumbo derretido usando uma sunga branca.)





E pra quem ainda tá em dúvida, a primeira banda que eu mais odeio é, obviamente, a banda mais bonita da cidade.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Fones de ouvido

Desde que dominou o fogo nos primórdios da civilização, o ser humano vem criando inúmeras invenções destinadas aos mais diferentes propósitos. Algumas deram muito certo (como a prensa de Gutenberg, por exemplo), mas também não faltam exemplos de outras que trouxeram muito aborrecimento e irritação (como, por exemplo, a prensa de Gutenberg). Nesse infindável mundo de criações humanas, algumas invenções figuram acima de outras devido a sua grande engenhosidade e seu impacto na sociedade (entre elas, a prensa de Gutenberg), e praticamente habitam um Olimpo das grandes obras da humanidade.

Pra mim, uma dessas invenções grandiosas são os fones de ouvido.

Pra quem nunca viu uma dessas jóias da mente humana, fones de ouvido são um minúsculo conjunto de caixas de som que você enfia nas suas orelhas para, então, ouvir a merda que você bem entender sem irritar as pessoas facilmente mau-humoradas ao seu redor. Inicialmente criados por volta de 1920 para aplicações como telefones ou rádios, os fones de ouvido atingiram seu completo potencial apenas com a criação dos Walkmen e das fitas cassete, que permitiram que um indivíduo ouvisse suas músicas prediletas onde e quando ele bem entendesse sem ter que carregar uma vitrola no seu ombro para isso.

O que é, a meu ver, uma verdadeira revolução.

Sem um fone de ouvido, você é quase que obrigado a ouvir o que os arredores te obrigavam. Primeiro porque se alguem liga um rádio do seu lado, você é fisicamente obrigado a ouvir aquilo. Segundo porque sem um fone de ouvido você não vai sair por aí ouvindo, digamos, Sidney Magal.
Você até pode, claro, mas lá no fundo você sabe que é muito brega.

Agora, se você tiver um fone de ouvido, você tem a liberdade de entulhar seus ouvidos com a música que você achar apropriada. Por pior que seja o som, você pode ouvi-lo livremente sem que ninguém te repreenda, reclame, ou atire nas suas costas.

Como se não bastasse o fato de te dar um alto grau de liberdade musical, um fone de ouvido também promove a tolerância social de modo comparável com poucos outros objetos do cotidiano. O fone de ouvido permite ao cidadão apreciar o que ele bem entende sem ferir os gostos ou preferências dos indivíduos ao seu redor. Isso permite, por exemplo, que várias pessoas possam compartilhar um espaço fechado, como um ônibus, ouvindo cada uma o que bem entende, sem que surja nenhuma animosidade entre elas.

O que é algo extremamente difícil, considerando a facilidade com que o ser humano se irrita com qualquer besteira.

Portanto, eu acredito que, para uma sociedade melhor, um dos primeiros passos que deveríamos tomar seria o de disponibilizar fones de ouvidos gratuitamente para a população geral, do mesmo modo que é feito com vacinas ou camisinhas.

Com esse grandioso passo, a harmonia entre os povos aumentaria consideravelmente conforme as pessoas deixassem de ferir ouvidos alheios com seus gostos musicais peculiares. As diferentes tribos musicais deixariam de brigar, haveria paz entre judeus, muçulmanos e cristãos, a fome na África acabaria e, principalmente, os funkeiros deixariam de ouvir funk pelo alto-falante do celular dentro do busão.