quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Utopia

Um dos passatempos preferidos do ser humano é imaginar circunstâncias irreais que tornariam o mundo um lugar melhor. "Imagina que legal se todo mundo vestisse azul-turquesa", pensam uns. "O mundo seria um lugar bem melhor se os rinocerontes tivessem o direito do voto", conjecturam outros. "Seria tão legal se a gente tivesse um rabo no meio da testa para espantar as moscas!", filosofa um terceiro.
Eu, como qualquer ser humano, tenho a minha própria visão de uma utopia: um mundo ideal, porém irrealizável. Hoje, irei dividi-la com vocês:

Minha utopia difere da realidade em três pontos:

Primeiramente, no meu mundo utópico, o governo seria controlado por bichos-preguiças. Não caberia ao homem se governar: ao invés disso, seriamos controlados pela sábia e preguiçosa batuta dos majestosos bichos-preguiça, que através de seus movimentos lentos, porém certeiros, nos transportariam para um futuro ideal.

Segundamente, toda e qualquer contenda seria resolvida numa banheira do Gugu. Qualquer desavença entre raças, credos, castas, nacionalidades ou qualquer coisa que não fosse resolvida pelo diálogo e pelo bom-senso terminaria no mesmo lugar: uma banheira, onde os antagonistas, vestidos de maiô, se digladiariam para obter o controle de um sabonete. Em caso de um conflito muito grande, uma banheira gigante seria construida, e os dois exércitos seriam colocados dentro dela, lutando pelo controle de uma tonelada de sabonetes despejados lá dentro. Tal sistema, além de impedir milhares de mortes e crimes de guerra, seria muito mais divertido. Imagine as seguintes cenas:
George W. Bush e Osama bin Laden, numa banheira.
Hitler e Winston Churchill, brigando por um sabonete.
Francisco Ferdinando e Gravillo Princip, ambos de maiô preto, se preparando para entrar na banheira.
Joana d'Arc e a Santa Inquisição, num embate violento pelo sabonete escorregadio.
Poncio Pilates e Jesus Cristo, chafurdando na água espumante enquanto uma multidão canta 'umba umba umba ê! umba umba umba ô!"

Terceiramente, o mundo se comportaria como um gigantesco e constante musical. Você estaria, por exemplo, andando de ônibus, quando, de repente, do ar, começaria a tocar uma música. Ela começaria suave, então você entraria cantando, até que, no refrão, o ônibus inteiro explodiria numa cantoria, enquanto você lideraria uma coreografia louca enquanto descia do ônibus, e iria dançando até seu destino, enquanto as pessoas da rua se uniriam à você na coreografia, até que, no climax máximo da canção, uma pequena multidão estaria atrás de você, dançando e cantando em únissono. Quando acabasse, todos iriam simplesmente juntar suas coisas e ir andando como se nada tivesse acontecido, e você continuaria no seu caminho, até que, do nada, um novo número do musical explodisse ao seu lado e você se visse pego na coreografia. Milhares de músicas aconteceriam simultaneamente, as vezes melancólicas, as vezes dramáticas, as vezes felizes, e você iria participando delas, as vezes liderando, as vezes como um figurante. Quando você, por fim, chegasse, digamos, ao seu trabalho, e o seu chefe te perguntasse "por que o atraso, maldito?", você poderia responder sem culpa: "Mil perdões, chefe, fui pego numa versão reestilizada do 'Singing in the Rain' alí na esquina e não cheguei a tempo..." e o seu chefe, compreensivo, diria: "Bem, acontece com qualquer um, né? Vamos pelo menos agradecer que não foi nada do High School Musical!", e você iria feliz tomar um cafézinho.

Mas bem, como isso tudo é completamente impossível, eu permaneço com a minha utopia realizável de transformar a ilha de Marajó numa miniatura da Irlanda.