quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

"Um breve ensaio sobre o ócio e a preguiça"

Boa noite, senhoras e senhores.
Eis que, por caprichos do destino, eu me encontrei sem internet no meio da madrugada e com alguma inspiração pra escrever.
Apresento-lhes o resultado:

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São 3:47 da noite, minha internet não funciona e eu não estou a fim de ir dormir.
Além do mais, hoje é o primeiro dia em uns, tipo, 20 dias que eu posso (ou consigo)
ficar acordado até depois das 3h.
Então cá estou eu, as 3:48 da madrugada, sentado na frente dessa bagaça, ouvindo musica irlandesa e não fazendo nada.
Ah, como é bom não fazer nada.
Agora são 3:49.
Bem, não tenho muito o que fazer.
Agora faltam 10 mins pras 4h.
É simplesmente incrivel como não fazer nada de útil é tão recompensante.
Eba, entrou o violão. Eu gosto dessa parte que entra o violão, apesar de meio que parece que não encaixa direito na métrica da música.
...
Ah, essa parte não é tão legal. Muito, sei lá, agitada.
Próóóxima música.
Agora eu estou imaginando qual seria o método mais fácil de ganhar um monte de dinheiro bem rápido que me permita não fazer nada pro resto da vida.
E ouvindo música irlandesa.
Quero ir pra Irlanda. A música de lá é legal.
...bem, diante da falta gigantesca de algo pra fazer além de não fazer nada e ouvir música irlandesa (que é algo que todo mundo deveria ouvir), vou escrever um pequeno ensaio sobre o ócio e a preguiça.
Entitulá-lo-ei:

"Um breve ensaio sobre o ócio e a preguiça"

(Baseado num recado inspirado que eu mandei pra criatura insana chamada Letícia numa noite de ócio, depois do primeiro dia de provas da fuvest.)

As pessoas costumam ter hobbies. Eles são os mais diversos, desde atirar em gansos no matagal à jogar bocha à colecionar selos. Como a criatura desocupada que sou, eu também tenho: meus hobbies são a preguiça e o ócio.
Apesar de minha dedicação a tais atividades, as pessoas não percebem a seriedade e honestidade com que pratico-as. "Vagabundo!", chamam-me alguns. "Vai estudar!", me ordenam outros. "Você não cansa de fazer nada?", me indagam alguns. "Você é um sincero apreciador da preguiça", percebem uns poucos. Porém, não me deixo abater por tais comentários e sigo obstinadamente na minha cruzada a favor da ociosidade e do direito de não produzir absolutamente nada.
Faço isso por um número de razões.
Primeiramente, para defender a preguiça.
Não há, no grande panteão de sentimentos e valores humanos, um mais desprezado ou reprimido que a preguiça. A maldade, por exemplo, já foi explicada com algo inerente ao ser humano; a ganância, algo necessário ao sucesso; o ódio, algo justificável por suas causas. A preguiça, no entanto, não recebe um único olhar de compaixão: é um dos pecados capitais, um dos males da sociedade atual. Qualquer pessoa comum tem o mesmo medo da preguiça que o diabo tem da cruz. Assim que o menor sinal de preguiça se instala nelas, elas fazem de tudo para mandá-la embora. Se por algum acaso tropeçam nela, tratam-na como se tratassem a um mendigo, jogam-lhe algumas moedas e seguem ignorando-a.
Porém, enquanto todos tratam a preguiça como um cão vira-lata, eu a acolho. Eu a abraço. Levo-a para meu lar, lhe dou um prato de sopa quente e trato de suas feridas. Quando ela fica cansada (o que é bem frequente), eu a coloco na cama, cubro-a e conto-lhe sua história preferida (a Bela Adormecida). E quando, por fim, nos vemos obrigados a nos separar novamente, eu sinto saudades antes mesmo que ela se vá, e nesse dia vou dormir mais triste, sabendo que não terei sua agradável companhia ao acordar no dia seguinte.
E o que ela me dá em troca de todo esse carinho?
Exatamente o que peço: absolutamente nada.
Mais especificamente, a vontade de fazer absolutamente nada, e o prazer de conseguir não fazer nada.
Eu acho simplesmente incrível como as pessoas têm tanto medo de não fazerem nada. Elas deveriam relaxar e curtir o ócio. Afinal o ócio não é apenas calmante. Ele é, tambem, o pico da evolução social humana.
O que é a segunda grande razão para que eu defenda arduamente o ócio e a preguiça.
O ócio, meus amigos, é o ápice completo do ser humano.
Não há, no mundo, alguem em posição filosófico-social mais elevada que o ocioso.
Desde que nasceu nas áridas planícies africanas, o homem se vê forçado a travar, diariamente, uma luta contra o planeta para garantir sua sobrevivencia.
Com o passar do tempo e o florescer das sociedades, o homem continuou a trabalhar, dessa vez para outros homens que, por sua vez, se viam muito ocupados garantindo que seus empregados trabalhassem direito. E assim, o mundo segue num ciclo eterno de trabalho e cansaço e mais trabalho. Um ciclo do qual o ocioso se exclui. E, por se excluir dele, se torna superior.
Enquanto tudo e todos trabalham desesperadamente, o ocioso, do alto de sua superioridade, se mantém obstinadamente inútil, desafiando a própria natureza. O ocioso representa, portanto, o topo da cadeia evolutiva humana. É quase, digamos, uma nova espécie. Um "Homo Sapiens Ocius".
E o ócio representa, desse modo, o momento máximo que o homem pode atingir, o momento em que ele nega a pena de trabalho imposta a ele pela natureza e aprecia o doce néctar da inutilidade. É como um momento de elevação espiritual, um nirvana.
E é também, por extensão, meu objetivo máximo e final de vida.
O eterno nirvana da ociosidade, no qual entrarei com a doce companhia da preguiça. Quando eu alcançar isso, me sentirei mais que feliz. Me sentirei realizado. Me sentirei completo. Sentirei que alcançei meu objetivo.
E então, tendo alcançado meu objetivo e feito o que tenho que fazer, não precisarei fazer mais nada. E, de fato, não farei mais nada. Não farei mais nada com gosto e dedicação.

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4:36. Musica irlandesa ainda é legal.
Acho que ouço o doce chamado do sono.
4:44 xD
Boa noite, mundo. Até nunca.

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Um dia depois, musica irlandesa ainda é legal. Ouçam, malditos.

4 comentários:

  1. é...vc ficar sem fazer nada é msm um perigo!!

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  2. a pergunta é, você não ficou com preguiça de escrever tudo isso?

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  3. a wikipedia diz que "O preguiçoso, conforme o senso comum, é aquele indivíduo avesso a atividades que mobilizem esforço físico ou mental. De modo que lhe é conveniente direcionar a sua vida a fins que não envolvam maiores esforços." . O senso comum não leu o seu blog. Esforço mental é o que nao faltou pra vc escrever tudo isso.

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  4. Também acredito que quem trabalha não tem tempo para pensar é um escravo do sistema - escreve bem gostei véio!

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