sábado, 15 de maio de 2010

Universidade

A universidade tem um sistema de ensino único. Devido à enorme variedade de pessoas que entram nela, de diversas idades, locais e escolas, eles têm de lidar com um grupo de alunos extremamente heterogêneo.
Como eles fazem com que esse grupo se torne um grupo homogêneo?
Simples, eles fazem um processo ,contínuo e repetitivo, de desconstrução e reconstrução da auto-estima de todas essas pobres almas, que começa antes mesmo delas se matricularem, tornando-os mais humildes, receptivos à novas ideias e prontos para receberem o conhecimento!

Vamos observar como isso acontece, examinando a trajetória de João, um estudante fictício:

João resolve prestar vestibular. Como João perdeu metade do cérebro num acidente de cozinha, ele resolve prestar um curso da área de exatas.
João gasta 100 reais na inscrição do vestibular. Devido ao fato de que o curso que ele se inscreveu (que não é, para fins de discussão, uma engenharia) não tem tantos candidatos por vaga, João se sente confiante.
João faz a primeira fase do vestibular. Sai dela com a cabeça parecendo que foi espremida num espremedor de alho. João tem a sensação que foi mal na prova. A auto estima de João cai significativamente.
O resultado da primeira fase do vestibular sai. João viu que passou para a segunda fase. João se sente muito inteligente. A auto-estima de João ricocheteia para cima.
João faz a segunda fase do vestibular. João sai das provas se sentindo burro. Acha que há chances de não ter passado. A auto-estima de João cai, novamente.
Após algum tempo, João é aprovado no vestibular. João se sente a pessoa mais inteligente, bonita, charmosa, especial e genial da face da terra. João se sente a última bolacha do pacote. A auto-estima de João sobe para o infinito e além.
João faz a matricula da universidade. João fica com tinta até no ouvido. João se sente como Edmund Hillary se sentiu ao chegar ao pico do Everest, mas sem a falta de oxigênio ou o frio.
Começam as aulas. Teoricamente. A primeira semana é calma e sossegada. João acha que vai tirar de letra.
Começam as aulas de verdade. João não entende merda nenhuma, mas não se importa muito.
Chegam os primeiros testes. João não vai muito bem neles, mas tambem não vai muito mal.
As provas se aproximam. João constata que não sabe de nada.
João constata que tudo que quase tudo que ele aprendeu no ensino médio é idiotice. Ele não se lembra das coisas que realmente interessam.
João tem sua primeira prova de cálculo. João sai dela se sentindo o ser mais ignorante da face da terra. João acredita que uma lesma desidratada se saíria melhor que ele na prova.
João recebe a nota de sua primeira prova de calculo. Constata, envergonhado, que uma lesma desidratada se sairía melhor que ele.
João recebe uma nota relativamente boa numa prova. Sua auto-estima aumenta um pouco. João já não se sente tão burro.
João tem prova de Geometria analítica. João percebe que seu cérebro se tornou um saco de pão vazio.
João começa a pensar em mudar pra um curso de humanas.
João tem prova de uma matéria que ele achava que gostava. Depois da prova, percebe que não gosta mais.
João tem outra prova de cálculo. João começa a se conformar com o fato de que ira cursar um monte de matérias novamente no outro semestre.

Ao fim desse processo, com leves variações, João se torna um zumbi intelectual, que aceita cegamente tudo que lhe dizem e percebe que tudo que ele sabe anteriormente ou é errado, ou é mentira, ou é delírio.

E assim, a universidade consegue homogeneizar seu grupo de alunos, tornando a atividade de ensina-los bem mais fácil!

(Isso tudo se aplica somente a cursos da área de exatas. Qualquer similaridade comigo é mera coincidência. Juro.)

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